As apreensões de drogas nas prisões do Rio Grande do Sul têm crescido durante a pandemia do coronavírus. De março a maio, o aumento é de 41% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados da Secretaria da Administração Penitenciária (Seapen). Uma das primeiras medidas adotadas para tentar conter o avanço da covid-19 nas cadeias foi a suspensão de visitas. Desde então, percebe-se série de situações inusitadas na tentativa de fazer entorpecentes e celulares cruzarem os portões das casas prisionais.
Na soma de março, abril e maio, foram encontrados 64,6 quilos de drogas — o período é o mais recente compilado pelo governo do Estado. A maconha está no topo dos narcóticos mais localizados nas cadeias gaúchas: 83% do total, com 53,8 quilos apreendidos. Na sequência vem a cocaína, com 7,3 quilos, e crack, com 3,5 quilos. O secretário Cesar Faccioli afirma que já era esperada maior tentativa de ingresso, devido ao momento mais tenso no sistema, com visitas suspensas.
Em 2019, oito scanners corporais foram instalados em prisões do RS, somados aos seis existentes. O aparelho permite identificar objetos por meio de raio X. Investimento em equipamentos, maior rigor nos protocolos de revistas, treinamento de agentes, e foco na inteligência prisional são fatores apontados pela Seapen para aumentar apreensões. O ex-secretário nacional de segurança e coronel reformado da PM de São Paulo José Vicente da Silva Filho concorda que a tecnologia, além da qualificação e supervisão de servidores, são fundamentais. Mas alerta para necessidade de reduzir entrada de itens nas cadeias, o que demanda que o Estado forneça o essencial, como produtos de higiene e roupas básicas.
No topo do ranking de cadeias que somam a maior parte das apreensões está o Presídio Central, em Porto Alegre. A casa prisional, com cerca de 4 mil presos e capacidade para 1,8 mil, concentra quase um quarto das drogas localizadas nas unidades do RS — 24% (15,9 quilos). No Central, também foi apreendido o maior volume de celulares: 324. No Estado, nesse mesmo período, o número de aparelhos localizados diminuiu. Foram 2.133 telefones apreendidos, o que, embora represente média de 23 por dia, é 15% menos do que de março a maio de 2019, quando foram encontrados 2.526.
— Há menos detentos no momento nas prisões do que havia no início da pandemia, isso pode explicar a redução nas apreensões de aparelhos — avalia Kieling.
Um caso curioso registrado em maio no Presídio de Santiago, na Região Central, demonstra a engenhosidade para tentar burlar a fiscalização. Os agente encontraram um descongestionante nasal caído no telhado da prisão. Quando abriram o frasco de plástico, depararam com um pequeno celular, de apenas seis centímetros, que cabia na palma da mão.
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