Receba as notícias mais importantes do dia no WhatsApp. Receba de graça as notícias mais importantes do dia no seu WhatsApp.
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
Entretenimento

Ciclista gaúcho que é cego, guia o próprio cão-guia em expedição de 240 km até o litoral

Como se, numa inversão de papéis, tivesse chegado a vez de Samuel guiar Capone por novas experiências, o início de 2020 foi de novas aventuras para a dupla.

O Pioneiro
por  O Pioneiro
19/01/2020 23:04 – atualizado há 4 anos
Continua depois da publicidadePublicidade

A retinose pigmentar, doença ocular degenerativa que tirou a visão do caxiense Samuel Luz Stumpf, nasce com uma a cada quatro mil pessoas e se manifesta normalmente na infância, afetando a retina. 

Desde os 11 até os atuais 26 anos, Samuel enxergou cada vez menos, até restar apenas 3% de visão, que o permitem perceber apenas alguma claridade. Mas também foi a partir da adolescência que Stumpf viu sua urgência por aproveitar a vida aumentar algo em torno de 100%, na contramão da sua capacidade de enxergar. E isso ajuda a explicar a razão de ter deixado Caxias para morar em Florianópolis, há dois anos.

— Passei a viver de forma mais intensa, no intuito de aproveitar todo tipo de experiência enquanto ainda podia ver as coisas. Isso me trouxe um mergulho interno. Quando tive a perda mais rápida, que foi ao passar de 7% para 3% de visão em apenas 15 dias, decidi fazer um mochilão sozinho, longe de tudo e de todos que conheço. Queria algo novo. Percorri parte do litoral catarinense e passei os últimos dias em Florianópolis. Me senti tão bem em contato com a natureza, e com as possibilidades de inclusão e de desenvolvimento dentro da minha realidade, que optei por seguir a vida em Santa Catarina — conta Samuel, que trabalha como analista de marketing na capital catarinense.

Conforme a visão se tornava mais debilitada, ainda na adolescência o esporte se tornou uma válvula de escape. Antes de se apaixonar pelo ciclismo, Samuel experimentou a natação. Chegou a participar de competições, contando com a ajuda de um sino preso ao colega de prova que nadava à frente. Logo percebeu, contudo, que o auxílio auditivo funcionaria melhor com a bike. Nos últimos cinco anos participou de diversas trilhas e expedições, por áreas rurais e urbanas. A cegueira, conta o rapaz, aguçou sua atenção para os outros sentidos, algo fundamental para a adaptação ao cotidiano na superação aos desafios que se propõe.

Carrinho para transportar bebês foi adaptado como reboque para o cão curtir a jornada

— Não é que a pessoa cega passe a ouvir melhor ou ter o olfato mais desenvolvido. O que acontece é um aumento necessário do nível de atenção para os outros sentidos. Faço muitos exercícios de concentração na experiência auditiva, olfativa e tátil. A visão tende a relaxar um pouco a atenção dos outros sentidos — explica.

A realização plena sobre duas rodas deu-se em dezembro. Em um "pedal" de São Francisco de Paula até Passo de Torres, o caxiense levou consigo pela primeira vez seu cão-guia, o labrador Capone. Ao lado dos habituais colegas de expedição, um grupo de 45 ciclistas e 10 apoiadores, mas dessa vez com o acréscimo do melhor amigo, que o seguiu em um carrinho de bebê adaptado como reboque, a aventura de quatro dias e 240 quilômetros foi inesquecível.

— Foi um momento de conexão muito grande, principalmente no sentido de gratidão pelo que o Capone representa pra mim, e por poder perceber ele se divertindo comigo. Ele gosta muito de terrenos não tão pedregosos ou com tanta erosão, por isso é melhor andar sempre em estrada de chão mais lisa ou asfalto. Nas trilhas havia um pouco de risco de capotar o reboque, por isso tivemos de ter um cuidado um pouco maior — destaca.

Expedição de Lajeado Grande, em São Francisco de Paula, até Passo de Torres, no litoral catarinense, foi feito em quatro dias

Como se, numa inversão de papéis, tivesse chegado a vez de Samuel guiar Capone por novas experiências, o início de 2020 foi de novas aventuras para a dupla. Tendo apenas um ao outro como companhia, em férias o rapaz e o cão-guia fizeram mochilão para visitar amigos no litoral gaúcho, passaram por Caxias do Sul, acamparam e fizeram trekking, stand-Up paddle e rafting juntos. Conforme percebe o poder da repercussão de suas aventuras, especialmente na mídia e nas redes sociais, de inspirar pessoas a se aceitarem e encararem de frente suas limitações, mas sem ser reféns delas, o jovem caxiense quer servir de inspiração:

— É uma nova forma de experienciar a vida, intensa e com o Capone ao meu lado. As pessoas se sensibilizam e se motivam por estes movimentos que eu faço e acho que isso tem um poder muito grande. Quero explorar novas possibilidades, participar de provas de aventura, produzir conteúdo, abraçar oportunidades e parcerias que possam surgir para ajudar a inspirar mais pessoas dentro do meu propósito.

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE