A pandemia do coronavírus, causador da Covid-19, deve entrar o ano de 2021 com força, beirando os 200 mil mortos pela doença desde sua chegada ao Brasil.
Embora o cenário com relação às vacinas em desenvolvimento seja animador, com testes clínicos bem sucedidos e início da aplicação na população de países como Reino Unido e Estados Unidos, especialistas alertam que, pelo menos no Brasil, vamos passar boa parte do próximo ano como vivemos em 2020, com restrições do comércio e atividades culturais e a manutenção de medidas de proteção contra o contágio, como o uso de máscara e o distanciamento social.
O plano de vacinação nacional do governo — classificado por especialistas como lento e insuficiente para cobrir toda a população —, as dificuldades logísticas para distribuir o imunizante à população e as altas taxas de transmissão do vírus tornam mais demorada a retomada de uma vida mais parecida com o que existia antes da pandemia.
A data para o início da imunização no país ainda é incerta. O Ministério da Saúde já fez quatro previsões: os meses de dezembro, janeiro, fevereiro e março foram cogitados para o começo da campanha. O impasse fez crescer a insegurança da população com relação aos planos do governo, que afirma aguardar uma autorização para um imunizante pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) antes de bater o martelo.
"Até que os grupos prioritários sejam vacinados, deve-se passar quase um ano inteiro. Quando isso acontecer, devemos ter uma menor circulação do vírus na população, mas ainda teremos muitos casos novos da doença e mortes causadas por ela", diz Viviane Alves, microbiologista e professora do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICB/UFMG).
Em três fases iniciais, a campanha deverá vacinar trabalhadores da área da saúde, pessoas com mais de 60 anos, indígenas e pessoas de comunidades tradicionais, pessoas com algumas comorbidades e deficiências permanentes severas, trabalhadores da educação e segurança pública, entre outros.
"Leva um tempo até que o programa de vacinação chegue a todos que fazem parte dos grupos de maior risco", afirma Alves.
Quando for finalizada a vacinação dos grupos de risco, Alves diz que haverá maior tranquilidade para os mais suscetíveis à doença, com a diminuição no número de mortes entre essas pessoas. "Mas ainda não sabemos se as vacinas podem evitar a transmissão do vírus e, assim, se não forem seguidos os cuidados necessários, a transmissão entre os mais jovens ainda pode pressionar o sistema de saúde", diz a cientista.