O ano de 2020 está sendo atípico, não apenas no Brasil, mas no mundo. A inesperada pandemia do coronavírus pegou todo mundo de surpresa, tanto pela sua abrangência territorial, como pela sua duração. Praticamente o ano todo, e todos os segmentos tiveram que se reinventar em suas atividades. Conforme a solidez estrutural de cada país, a crise atingiu com maior ou menor intensidade em se tratando das atividades econômicas. O Brasil um país em desenvolvimento também está sofrendo, agravado com desentendimentos políticos e ideológicos, onde algumas lideranças não perderam a oportunidade de polemizar os discursos na crise, sem querem defender qual o ponto de vista seja o mais acertado.
Mas o agro não parou. Além de garantir a segurança alimentar da população em nosso país e em muitos outros ao redor do mundo, também garantiu os poucos pontos positivos na economia, afetada drasticamente com a pandemia. Segundo relato da CNA – Confederação Nacional da Agricultura, o agro além de garantir o segundo maior índice de emprego aos brasileiros, também foi o setor que possibilitou o aumento do PIB – Produto Interno Bruto em quase 10 por cento. Dentro de uma economia fragilizada e muitos setores arrasados, temos que comemorar, pois o agro foi a garantia positiva do momento, até mesmo dita pelos mais incrédulos da economia. O setor aumentou consideravelmente as exportações, manteve e ampliou os contratos com os parceiros internacionais, e trouxe divisas ao país em uma época crucial de falta de moeda.
A valorização do real frente o dólar contribuiu para as exportações, mas também afetou o mercado interno. O consumidor está experimentando preços elevados de alguns alimentos, consequência da escassez de produtos e da ampliação das exportações. Para o setor agro, foi positivo, mas isso não significou que as elevações de preços do arroz, óleo de soja e outros produtos de exportação, resultam em vantagens a todos os produtores. Segundo a própria CNA, apenas um por cento dos produtores de soja se beneficiou com a elevação de preços dos grãos, que pulou de R$ 70,00 para R$ 156,00 por saco no seu patamar mais elevado. Da mesma forma o arroz beneficiou o mercado em geral, especialmente os intermediários, passando de R$ 52,00 para R$ 104,00 por saco, mas isso só beneficiou seis por cento dos produtores de arroz.
No geral, o agro foi bem este ano, setor que corre o maior risco, com intempéries e mercado, mas não significa que todos os produtores ganhassem com isso. Mas a culpa da alta nos preços dos alimentos, segundo a grande mídia, continua recaindo injustamente em cima dos agricultores. Poucos reconhecem que mais uma vez o agro salvou a pátria. Pense nisso.
Ivan Ramos é Diretor Executivo da Fecoagro - Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado de Santa Catarina