Sergio Moro não é mais ministro da Justiça. Com um discurso forte, permeado por revelações importantes, o anúncio da saída foi feito nesta sexta-feira, em Brasília, horas depois da confirmação da demissão do diretor-geral da Polícia Federal. Moro é o segundo ministro a deixar o governo federal em pouco mais de uma semana.
Antes dele, Luiz Henrique Mandetta foi demitido pelo presidente por conta de divergências em função do isolamento social durante o combate ao novo coronavírus. A saída de Moro quase se tornou oficial nessa quinta, assim que soube da intenção de Bolsonaro em exonerar Maurício Valeixo. A ala militar da administração havia conseguido convencer o ministro a permanecer, mas a gota d'água foi a confirmação da demissão de Valeixo.
Nome preferido
Jornais do centro do país indicam que o atual ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Jorge Oliveira, homem de confiança de Bolsonaro, pode ser o novo ministro da Justiça. Oliveira é ex-policial militar e advogado.
Jorge Oliveira também foi assessor jurídico do então deputado federal Jair Bolsonaro e chefe de gabinete do deputado federal Eduardo Bolsonaro. Em 1 de janeiro de 2019, assumiu a subchefia de Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República no governo Bolsonaro. No dia 21 de junho de 2019, assumiu a função de ministro-chefe da Secretaria Geral.
O JUÍZ
Estudioso da Operação Mãos Limpas, que combateu a corrupção na Itália na década de 1990, Moro fez comparações entre a operação italiana e a Lava Jato.
Especializado em crimes financeiros, foi juiz do caso Banestado no início dos anos 2000, quando o doleiro Alberto Youssef, envolvido na Lava Jato, também foi um dos protagonistas e um dos que firmaram acordo de delação premiada com a Justiça.
Antes de ganhar notoriedade nacional com a Lava Jato, Moro foi juiz auxiliar da ministra Rosa Weber, do STF (Supremo Tribunal Federal), em 2012, durante o julgamento do caso conhecido como Mensalão, numa época em que Weber havia acabado de chegar ao Supremo oriunda da Justiça do Trabalho.
Já à frente da 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pelos processos relacionados à operação Lava Jato, Moro teve embates frequentes durante audiências com a defesa de Lula, que por diversas vezes questionou juridicamente a suposta parcialidade do juiz.
O juiz também foi alvo de críticas por conta do episódio em que divulgou nos autos do processo interceptações telefônicas de Lula com a então presidente Dilma Rousseff, e com outras autoridades com prerrogativa de foro, como o então ministro Jaques Wagner e o governador do Piauí, Wellington Dias, ação que contribuiu para a desestabilização da ex-presidente petista.
Moro também foi acusado de tomar um viés político quando tornou públicos trechos da delação premiada do ex-ministro Antonio Paloci a poucos dias do primeiro turno da eleição presidencial. Antes, havia adiado o depoimento de Lula no processo do sítio de Atibaia para novembro, sob alegação de que o adiamento visava evitar exploração eleitoral.
O papel central na Lava Jato também rendeu a Moro fama internacional. Ele foi condecorado por universidades estrangeiras, deu palestras no exterior e estampou capas de revistas internacionais, aclamado como um símbolo do combate à corrupção e ao fim da impunidade de poderosos no Brasil.
Moro é casado com a advogada Rosangela Wolff Moro. O casal tem dois filhos. (Com informações da Reuters)