Agro
A valorização do milho
Por Ivan Ramos diretor executivo da Fecoagro.
Está sendo surpreendente neste ano a valorização dos cereais no Brasil e no mundo. A soja mais que dobrou de preço de um ano para o outro; e o milho triplicou de valor, e o arroz também foi supervalorizado nessa última safra, deixando os produtores desses produtos entusiasmados para o plantio da safra seguinte. Há comentários nos meios agropecuários que teve agricultor que não sabia o que fazer com dinheiro que ganhou. Aqueles mais organizados e planejados certamente guardaram uma reserva para eventuais contratempos, que sempre acontecem na atividade agropecuária. Outros investiram até em supérfluos; mas cabe a cada um definir o destino dos seus ganhos.
Para este ano as coisas já não oferecem tanta segurança de resultados. Enquanto que na safra anterior se plantou com custo e dólar baixo e se colheu e vendeu com dólar e preços em alta, para o próximo plantio deve ser o inverso. Os custos de produção desse novo plantio subiram, e o resultado não será o mesmo. O mais curioso, entretanto, está sendo a valorização progressiva do preço do milho. Analistas de mercado já vinham advertindo há muitos anos que o milho iria se valorizar devido à crescente demanda. Poucos potenciais consumidores acreditaram. Neste ano o preço já está passando da casa dos três dígitos por saco, isto é, passou de R$ 100,00, e jamais no Brasil atingiu valor semelhante na história.
Recentemente numa análise feita pelo professor Marcos Fava Neto, especialista em análise de mercado, mostra que dificilmente o preço do milho retorne a patamares anteriores. No lançamento virtual do seu projeto “Somos Milhões”, Marcos Fava Neto mostra números de produção e tendência de demanda pelo milho no mundo, que estimula ainda mais os produtores do grão de ouro.
O mundo inteiro está comprando mais milho e a produção, mesmo com aumento da produtividade, não está acompanhando no mesmo ritmo, portanto a procura deve ser maior do que a oferta e isso leva a cada vez mais valorizar o preço do grão. O aumento pela procura anima os Estados Unidos e o Brasil que são os principais países produtores do mundo. A China é a segunda maior produtora, mas também é a maior consumidora e por isso ainda assim precisa importar.
Produtores estão em um bom momento para a atividade de grãos e o Brasil avança rapidamente na sua produção. Devem ser beneficiados; embora na outra ponta, do consumo, a realidade seja outra. Preços altos dos grãos significa aumento dos custos de produção das carnes e do leite. Nem todos os consumidores têm renda para suportar isso. Portanto, surge uma equação difícil de resolver.
O agro em SC sofre ainda mais. Como somos deficitários na produção de milho para abastecer as agroindústrias e criadores, temos que importar de outros estados e países, e nossos custos ficam ainda mais prejudicados devido o transporte. Taí mais uma razão para que toda a cadeia e os governos se preocupem em estimular o plantio de cereais de inverno para suprir pelo menos em parte o déficit de milho para produção de ração em SC. Todos os esforços são válidos para reduzir os nossos custos e podermos continuar competindo com nossas carnes. Com a palavra as autoridades e os políticos para ajudar a garantir a continuidade da atividade agropecuária mais importante de SC. Pense nisso.
Ivan Ramos é Diretor Executivo da Fecoagro - Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado de Santa Catarina