O autor do ataque a creche em Saudades, no Oeste de Santa Catarina, escolheu o local cinco dias antes do crime. Em entrevista coletiva na manhã desta sexta-feira (14), o delegado Jerônimo Marçal, contou que a ação foi planejada há meses e que o objetivo do jovem era matar o máximo de pessoas possível.
— A raiva dele era contra qualquer pessoa e ele deixou bem claro que a escolha [da creche] foi pela fragilidade das vítimas — contou Marçal.
Ainda segundo a polícia, ações semelhantes ao ataque em Saudades foram interceptadas em quatro estados. A embaixada americana no Brasil também contribuiu para elucidar a ação do jovem.
A polícia apreendeu dispositivos eletrônicos na casa do assassino. Uma perícia nos equipamentos encontrou trocas de mensagens que contribuíram com investigações de outros estados.
— O que foi extraído dos equipamentos eletrônicos nos permitiu verificar que outras pessoas tinham intenções semelhantes a do jovem de Saudades. Em razão da troca de informações outros estados puderam agir e possivelmente impedir resultados semelhantes — disse o delegado regional de Chapecó, Ricardo Casagrande
Também participaram da coletiva o delegado-geral da Polícia Civil Paulo Koerich, o delegado-geral adjunto Fernando Callfasse.
Segundo o delegado Marçal, o autor trabalhou normalmente na manhã do ataque. No horário do intervalo e foi até sua casa e por volta de 9h50min chegou na creche.
O jovem, ainda de acordo com o delegado, teria agido sozinho no planejamento do crime que aconteceu há mais de um ano.
— Ele queria matar o máximo possível de pessoas. Ele agiu com esse objetivo e ele estava com pressa. Os relatos que a gente recebeu é de que ele tentava entrar numa sala, não conseguia e ia correndo para outra — disse Marçal.
Num primeiro momento, o jovem teria planejado atacar colegas de escola. Ele tentou comprar armas de fogo por meses. Sem sucesso, o jovem então mudou o alvo por, segundo o delegado, achar que não conseguiria enfrentar os rapazes. O autor comprou pela internet o facão usado no crime. O objeto teria custado cerca de R$ 400. Para o delegado, o autor agiu de forma consciente. Ele está preso preventivamente em Chapecó.
Na segunda-feira (10), o assassino foi interrogado enquanto ainda estava hospitalizado. Ele foi indiciado por cinco homicídios triplamente qualificados e uma tentativa de homicídio. Segundo a polícia, o suspeito foi descrito como uma pessoa solitária. Familiares do jovem foram ouvidos e um pedido de exame de saúde mental foi negado pela Justiça.O jovem está preso em uma cela isolada no Presídio Regional de Chapecó em razão das medidas de combate ao coronavírus.
O delegado descreveu o jovem como alguém com dificuldades de relacionamento. Nos últimos meses, ele teria se isolado e nutrido um ódio das pessoas ao redor. O crime, segundo Marçal, teria sido uma forma de descarregar o sentimento.
— Ele era essa pessoa isolada e tinha problemas de relacionamentos, mas assim num nível muito acima do normal. [...] Nos últimos tempos ele foi se isolando cada vez mais no mundo dele e se isolando do nosso mundo. Ele entrou num mundo onde começou a ter contato com muito material violento e com pessoas que pensavam parecido com ele — pontou.