Boletim reforça a urgência de estratégias integradas para prevenção do suicídio no RS

Com as maiores taxas do país, o estado enfrenta desafios estruturais e sociais; publicação destaca a importância do acolhimento, da promoção contínua da saúde mental e do combate ao estigma.

Por Redação/Ascom SES Publicado em 23/09/2025 15:25 - Atualizado em 23/09/2025 15:33

O governo do Rio Grande do Sul, por meio da Secretaria da Saúde (SES), divulgou um novo Boletim Epidemiológico com dados atualizados sobre suicídios e violência autoprovocada no Estado. O levantamento mostra que o RS tem uma das maiores taxas de mortalidade por suicídio do Brasil.

Entre 2015 e 2023, a taxa aumentou 47,7%, passando de 10,88 para 16,07 por 100 mil habitantes, o maior índice da série histórica. Em 2024, houve uma interrupção na tendência de crescimento, mas ainda não é possível confirmar uma queda, pois os dados seguem sendo atualizados e investigados.

Em 2024, dos 1.528 óbitos por suicídio registrados no Rio Grande do Sul, cerca de 80% foram de homens. A maior taxa foi entre homens com mais de 80 anos (49,69 por 100 mil). Entre as mulheres, o risco é maior entre 60 e 69 anos (8,35), mas diminui nas faixas etárias mais altas, diferente do padrão masculino.

Na velhice, especialmente entre os homens, fatores como perda de autonomia, fim da vida laboral, doenças incapacitantes e sensação de inutilidade aumentam o sofrimento psíquico e o risco de suicídio.

A distribuição dos óbitos por suicídio no Rio Grande do Sul é desigual entre as regiões. As maiores taxas foram registradas nas áreas das Coordenadorias Regionais de Saúde com sede em Cruz Alta, Santa Cruz do Sul, Ijuí e Frederico Westphalen.

Entre os municípios com mais de 50 mil habitantes, Venâncio Aires tem a maior taxa (33,81 por 100 mil), seguido por São Borja (23,16), Sapiranga e Ijuí (ambos com 22,56). No total, 11 municípios superaram a média estadual parcial de 2024, que é de 14,87 óbitos por 100 mil habitantes.

Os dados preliminares do boletim não confirmam um aumento nas taxas de suicídio no Rio Grande do Sul após as enchentes de 2023 e 2024, mas alertam que os efeitos emocionais de desastres ambientais podem ser tardios.

Após eventos traumáticos, sintomas como ansiedade, tristeza e insônia são comuns, mas nem sempre chegam aos serviços de saúde, dificultando o atendimento. Problemas mais graves, como transtornos mentais, abuso de substâncias e comportamentos autolesivos, podem surgir com o tempo, exigindo atenção contínua e estratégias de prevenção de longo prazo.

Segundo a OMS, cerca de 727 mil pessoas morreram por suicídio em 2021 no mundo — número superior às mortes por HIV/AIDS, câncer de mama ou conflitos armados no mesmo período, evidenciando a gravidade do problema como questão de saúde pública global.

O comportamento suicida vai além da morte em si e pode incluir ideação suicida, tentativas e autolesões. Nesse último caso, o objetivo não é morrer, mas aliviar uma dor emocional por meio da dor física. Práticas como cortes, queimaduras e mordidas são mais comuns entre adolescentes e podem funcionar como pedido de ajuda, punição pessoal ou forma de regulação emocional.

As autolesões também são fatores de risco importantes para tentativas de suicídio e, consequentemente, para o óbito.

O suicídio é um fenômeno complexo e multifatorial, influenciado por aspectos biológicos, psicológicos, sociais e econômicos, e sua prevenção exige ações integradas entre políticas públicas e setores diversos.

O novo Boletim Epidemiológico busca apoiar gestores, profissionais e sociedade civil na criação de estratégias eficazes, com foco em grupos e regiões mais vulneráveis. Entre as ações prioritárias estão o fortalecimento dos sistemas de informação, a promoção da saúde mental e o acolhimento contínuo.

O Rio Grande do Sul, que possui as maiores taxas de suicídio do país, enfrenta desafios como o preconceito sobre o sofrimento psíquico e o estigma em torno do comportamento suicida. A prevenção deve ser contínua, ir além do Setembro Amarelo e incluir o tema na educação permanente.

A comunicação sobre o tema deve ser feita com responsabilidade técnica, evitando abordagens sensacionalistas e priorizando a promoção da vida e a divulgação de serviços de apoio.

Pessoas com comportamentos suicidas devem ser acolhidas na Rede de Atenção Psicossocial, com a Atenção Primária desempenhando papel fundamental na identificação precoce. Além do cuidado individual, é essencial implementar estratégias coletivas que garantam direitos sociais básicos e enfrentem formas de violência e discriminação, especialmente contra populações vulneráveis, como LGBTQIA+, mulheres, idosos, pessoas negras e jovens em situação de bullying.