Segurança
Caso Bernardo: recurso que pede anulação de júri do pai do menino será julgado no fim do mês
O Ministério Público pede que a pena de quase 32 anos de prisão seja ampliada, ao passo que os advogados dele pedem anulação de júri que o condenou pela segunda vez.
Na próxima sexta-feira (23), o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) julgará recursos apresentados por acusação e defesa do médico Leandro Boldrini, pai do menino Bernardo, assassinado em Três Passos (Noroeste gaúcho) em abril de 2014. O Ministério Público pede que a pena de quase 32 anos de prisão seja ampliada, ao passo que os advogados dele pedem anulação de júri que o condenou pela segunda vez.
A promotoria acredita que o veredito será mantido, apesar da defesa argumentar irregularidades no segundo julgamento (março de 2023), realizado após a anulação do primeiro (2019) em 2021 – a Justiça aceitou a alegação tratamento desigual entre as partes do processo durante o interrogatório do réu.
A coordenadora do Centro de Apoio Operacional Criminal e de Acolhimento às Vítimas do MP-RS, promotora de Alessandra Moura Bastian da Cunha, afirma que a instituição está convicta de que o TJ-RS respeitará a decisão dos jurados de Três Passos, que por duas vezes condenaram Leandro Boldrini.
Presos desde 2014, os quatro réus do caso foram condenados em 2019 por homicídio qualificado e ocultação de cadáver. Como executora do crime, a madrasta Graciele Ugulini recebeu quase 35 anos de cadeia e continua presa.
Edelvania Wirganovicz, apontada como cúmplice, foi condenada a 22 anos e dez meses, e hoje cumpre no semiaberto. O irmão de Edelvânia, Evandro, também considerado cúmplice, foi sentenciado a nove anos e meio. Em março de 2019, obteve a progressão para liberdade condicional.
No caso do médico (apontado como mentor), o júri foi anulado após sua defesa convencer a Justiça de que os promotores (acusação) cometeram a chamada “quebra da paridade de armas” durante o interrogatório: não teriam formulado perguntas ao réu e sim argumentações, sem que os advogados de defesa pudessem contrapor.
Um novo julgamento resultou em sentença menor, com a absolvição do crime de ocultação de cadáver. Boldrini permaneceu em regime fechado desde 2014 e com trabalho na cozinha do cárcere, até atingir 2/5 da pena, condição compatível com a progressão para o regime semiaberto, em Santa Maria (Região Central), em julho do ano passado.
Leandro Boldrini considerava a decisão inevitável e se apresentou espontaneamente à instituição penal, informou o seu advogado. Ele também havia obtido autorização judicial, em setembro, para prosseguir em Santa Maria o cumprimento da pena pelo crime, cometido em 2014 na cidade de Três Passos (Noroeste) e que teve outras três pessoas levadas ao banco dos réus.
O sinal-verde para a mudança de endereço foi motivada por “necessidades pessoais”, não detalhadas. Leandro passou então a viver na mesma cidade onde estão sepultados os restos mortais de seu filho e da primeira esposa, mãe de Bernardo. Ela se suicidou anos antes do crime – fato que posteriormente seria alvo de investigação, devido a desconfianças geradas pelo assassinato do menino.