Clima
Cenário climático poderá ser diferente das condições esperadas para um período de La Niña
Previsões indicam La Niña com temperaturas atípicas e impactos incertos na safra brasileira.
As mais recentes projeções indicam um cenário certo para as próximas semanas: a transição do fenômeno El Niño para Neutralidade, e o ressurgimento da La Niña nos próximos meses. Contudo o cenário climático poderá ser diferente das condições esperadas para um período de La Niña.
Essa mudança de padrão de Neutralidade para La Niña deve ocorrer entre os meses de Junho a Agosto. Historicamente a condição de Lá Niña, traz temperaturas mais baixas para o Brasil, chuvas abaixo da média na região sul e chuvas acima da média no centro-norte.
A média do conjunto CFSv2 (linha tracejada preta) indica que o El Niño pode fazer uma transição para Neutralidade em abril, seguido por uma transição para La Niña por volta de Junho-Agosto de 2024 (62% de chances). Fonte: NOAA.
É justamente a questão das temperaturas que pode quebrar a regra do padrão histórico previsto.
Estamos numa sequência que até então, jamais foi registrada nos dados históricos recentes. As temperaturas globais dos oceanos estão há um ano em recordes absolutos. Desde 13 de março de 2023 os valores médios das águas nos oceanos são os maiores já registrados na história e o ano de 2024 vem sendo ainda mais quente do que no ano de 2023.
Apesar da relação entre as águas no oceano e o cenário agrícola brasileiro estar distante, a relação é muito mais intrínseca do que se imagina.
Os oceanos são capazes de modular as condições do clima em todo o mundo, incluindo o Brasil. Quanto mais quente as águas estão, mais energia e umidade está disponível na atmosfera, resultando em eventos climáticos mais extremos, especialmente no que se refere à intensidade das chuvas.
Essa maior disponibilidade de energia na atmosfera molda o comportamento das chuvas, concentrando volumes significativos de precipitação em curtos períodos de tempo. Em períodos que podem ser seguidos por alta temperatura.
Essas alterações na distribuição e intensidade das chuvas podem ser extremamente prejudiciais à agricultura, afetando diretamente a produtividade das lavouras. A irregularidade e a intensidade das chuvas podem levar à erosão do solo, perda de nutrientes essenciais e aumento da suscetibilidade a pragas e doenças. Além disso, períodos prolongados de seca intercalados com chuvas intensas dificultam a gestão eficaz dos recursos hídricos, essenciais para a irrigação das culturas.
As temperaturas elevadas previstas para o período de inverno e a safra de verão de 2024/25 representam um desafio significativo para a agricultura brasileira, influenciando diretamente a produtividade e a sustentabilidade das culturas. A análise dos impactos potenciais dessas condições climáticas e a elaboração de estratégias de mitigação são fundamentais para o setor agrícola. Vamos explorar os principais aspectos desse desafio.
Impactos nas Culturas de Inverno 2024
Estresse térmico: Culturas típicas do inverno, como trigo e cevada, podem enfrentar estresse térmico, levando à redução do crescimento, da floração e da formação de grãos. Isso resulta em menores rendimentos e qualidade do produto.
Ciclo vegetativo mais curto: Temperaturas mais altas podem acelerar o ciclo de desenvolvimento das plantas, reduzindo o período para a absorção de nutrientes e a realização da fotossíntese, afetando negativamente a produtividade.
Impactos nas Culturas de Verão 2024/25
Demanda hídrica elevada: As culturas de verão, como soja, milho e cana-de-açúcar, experimentarão um aumento na demanda por água, podendo sofrer com a escassez hídrica, especialmente em regiões com limitada disponibilidade de água para irrigação.
Redução da fotossíntese: Altas temperaturas, especialmente quando combinadas com baixa umidade, podem reduzir a eficiência da fotossíntese e aumentar a respiração das plantas, diminuindo a energia disponível para o crescimento e a produção.
Polinização comprometida: Em culturas dependentes de polinização, como algumas frutas e legumes, o excesso de calor pode afetar a viabilidade do pólen e a atividade dos polinizadores, resultando em menor formação de frutos.
Estratégias de Mitigação
Seleção de cultivares adaptadas: Utilizar variedades de culturas adaptadas a temperaturas mais elevadas, com maior tolerância ao estresse hídrico e térmico, pode ser uma estratégia eficaz para manter a produtividade.
Manejo eficiente da água: A adoção de tecnologias de irrigação de precisão e práticas de conservação de água e o manejo adequado do solo, são essenciais para otimizar o uso da água.
Monitoramento climático e ajustes operacionais: Acompanhar previsões climáticas de curto e longo prazo para ajustar práticas de plantio, irrigação e colheita, visando a melhor adaptação às condições previstas.