Agro

Com medo de faltar fertilizante, importadores brasileiros compram demais e sobra produto

Cerca de 23% dos adubos ou fertilizantes químicos importados em 2021 vieram da Rússia, aponta o levantamento do Comex Stat, do Ministério da Economia.

Por G1 Publicado em 03/01/2023 06:01 - Atualizado em 03/06/2024 11:33

No início do ano que passou, quando a Rússia fez seu primeiro ataque à Ucrânia, o mercado agrícola brasileiro ficou preocupado que faltasse fertilizante, já que os russos são os principais fornecedores.

Mas ele encerrou 2022 em um cenário bem diferente, ainda que a guerra continue: sobra produto, a ponto de o Brasil ter tido que revender parte dele para outros países.

Apesar de o Brasil ser grande exportador de commodities agrícolas, como grãos, tal qual a soja, 70% da matéria-prima dos fertilizantes usados nos plantios vem do exterior, segundo a consultoria agrícola Cogo.

Por causa da guerra, os agricultores ficaram preocupados que a safra 22/23 ficasse sem adubo. Era um receio com relação ao futuro, diz Paulo Sérgio Pavinato, professor no departamento de Ciência do Solo, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo.

A situação fez com que as empresas que vendem fertilizantes corressem para adiantar as compras – o que, geralmente, só acontece no segundo semestre, pontua a consultora do Safras & Mercados Maisa Romanello.

As importadoras buscaram o produto, inclusive, em outros países. A então ministra da Agricultura, Tereza Cristina, chegou a viajar para o Canadá para negociar a compra de potássio.

Os navios russos continuaram desembarcando normalmente nos portos brasileiros, a despeito das sanções bancárias e logísticas.

O problema é que o preço dos fertilizantes, que já tinha aumentado em 2021, disparou após o início da guerra. Diante disso, muitos agricultores pararam de comprar o adubo, esperando uma queda nos valores.

Da metade do ano de 2022 em diante, começou a acumular fertilizante nos portos. E não estava dando vazão, não estava tendo demanda pelos produtores e isso acabou afetando a capacidade de estoque e, obviamente, precisava dar um destino para o fertilizante”, explica Pavinato, da USP.

Em setembro, entretanto, os preços dos fertilizantes tiveram uma forte queda no Brasil, porque, a princípio, algumas empresas tomaram posições com preços elevados e não conseguiam dar vazão aos produtos.

O tempo de espera para descarregar um navio no país também foi um obstáculo para essa comercialização.

Pavinato aponta que, no auge da guerra da Ucrânia, a tonelada do cloreto de potássio, matéria-prima para fertilizante, custava cerca de US$ 1.300, atualmente está em torno de US$ 780 no porto.

Até novembro, o Brasil importou 32.699 milhões de toneladas, aponta a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). O volume é 7,4% menor que o do mesmo período de 2021.

Após ter alcançado máximas recordes no início do ano, as cotações dos fertilizantes já recuaram a níveis pré-guerra, pressionadas por um enfraquecimento da demanda, diz o relatório Radar Agro do banco Itaú.

E as perspectivas são mais favoráveis para o próximo ano, confirma a consultora do Safras & Mercados Maisa Romanello.

“A oferta deve se restabelecer e a demanda seguirá com cautela, não aceitando altos patamares. Assim, os preços devem recuar e serem mais baixos do que neste ano. Ainda assim, deverão permanecer acima da média dos últimos anos”, conclui.

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