Agro
Crise no Setor Leiteiro: Desafios e perspectivas frente às importações e políticas públicas
A pecuária leiteira enfrenta um período crítico, com aumento das importações de lácteos do Mercosul e a necessidade urgente de políticas públicas efetivas para fortalecer o setor
A pecuária leiteira no Brasil, especialmente em 2023, vive um dos momentos mais desafiadores de sua história. O aumento significativo das importações de produtos lácteos do Mercosul, principalmente da Argentina e do Uruguai, tem colocado em xeque a competitividade do setor nacional. Nos primeiros meses de 2023, o Brasil viu suas importações triplicarem, chegando a 70.000 toneladas de leite e derivados, em comparação com 21.000 toneladas no mesmo período do ano anterior.
Especialistas do setor, como Osmar Redin, assessor executivo da Associação das Pequenas Indústrias de Laticínios do Rio Grande do Sul (APIL RS), e Darlan Palharini, secretário executivo do Sindicato das Indústrias de Laticínios do Estado (SINDILAT RS), destacam diversos fatores que contribuem para essa situação. Entre eles, a competitividade dos preços dos produtos do Mercosul, a falta de políticas públicas eficazes no Brasil para o setor leiteiro e a desvantagem do país no mercado internacional devido aos altos custos de produção.
A crise também é agravada por questões climáticas adversas, como secas e enchentes, que afetam diretamente os produtores. Além disso, a redução no número de produtores de leite no Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul, é alarmante. Nos últimos oito anos, o número de produtores no estado caiu 60,78 %, de 84.199 para 33.019. Esse declínio é atribuído à falta de políticas de estado que incentivem a permanência e a sucessão familiar no campo, bem como à falta de preparação para competir no mercado internacional.
As medidas recentes do governo federal, como o decreto assinado pelo presidente Lula em outubro de 2023, que visa incentivar a compra de leite nacional através de créditos tributários, são vistas com ceticismo pelos especialistas. Eles argumentam que, embora bem-intencionadas, essas medidas podem ser insuficientes ou até contraproducentes, dada a complexidade do problema e a necessidade de uma abordagem mais abrangente e estruturada.
A crise atual exige uma resposta multifacetada, que inclua não apenas medidas paliativas, mas também um plano de longo prazo para fortalecer o setor leiteiro brasileiro. Isso passa por uma revisão das políticas públicas, incentivo à tecnologia e eficiência na produção, e uma maior integração entre produtores, indústria e governo. A situação atual do setor leiteiro no Brasil é um chamado para ação, exigindo soluções criativas e sustentáveis para garantir sua viabilidade futura.