Economia
Do combustível ao elétrico: projeto em Santa Catarina transforma carros a combustão em 100% elétricos
Profissionais da área projetam expansão dos carros elétricos impulsionada por benefícios como sustentabilidade e economia.
Já pensou como seria poder abastecer o carro na sua própria casa, usando apenas uma tomada conectada à energia elétrica? Pode até parecer uma realidade distante, mas o conceito tem se tornado cada vez mais comum com o crescimento do setor de veículos elétricos, que substituem os combustíveis fósseis pela eletricidade.
Em Santa Catarina, uma iniciativa do grupo de pesquisa em mobilidade elétrica do IFSC (Instituto Federal de Santa Catarina) está transformando veículos com motor a combustão em carros 100% elétricos a partir de tecnologia quase totalmente catarinense.
O projeto ConVerTE conta com a participação de 30 pessoas, entre professores e alunos. Tem como objetivo inicial a conversão de veículos da frota pública, além de fazer um estudo do perfil do público e contribuir para a formatação de uma legislação específica para as conversões.
De acordo com Erwin Werner Teichmann, professor do IFSC que participa do projeto, o estudo para a realização da conversão é baseado especialmente no cenário do Brasil, uma vez que por aqui não há subsídios e apoios fiscais como os oferecidos na Europa e nos Estados Unidos.
Conversão em qualquer carro
No projeto ConVerTE, a ideia inicial é desenvolver a conversão em cinco veículos, com um sistema que conta com baterias, motor e o powertrain (trem de força, em inglês) – que tem como função transmitir a energia do motor elétrico para as rodas. A transmissão é CTT (Transmissão Continuamente Variável), que não tem marchas, e sim um disco e roletes de pressão com posição variável. Dessa forma, o carro acelera de forma gradual, como se tivesse apenas uma marcha.
O primeiro carro completamente convertido foi uma Fiat Fiorino (doada pela Receita Federal), com um sistema de conversão que pode custar entre R$ 60 mil e R$ 100 mil. “Hoje conseguimos fazer a transformação de qualquer carro fabricado porque a tecnologia já existe. A ideia é apenas tirar o motor e aproveitar o restante”, explica o professor Erwin Werner Teichmann.
Neste primeiro momento, o utilitário recebeu um motor elétrico importado com quase 160 cavalos de potência e uma grande bateria NMC (níquel, manganês e cobalto) com autonomia de até 300 km por carga. As células do componente vêm da China, mas a bateria é montada pelos próprios pesquisadores do IFSC.
“O principal custo é a bateria. Mas supondo que um servidor público ande 50 km por dia, o carro pode ficar carregando na parte da noite. Então eu não preciso de uma bateria tão grande para esse perfil de uso e o valor da conversão pode ser reduzido”, destaca Erwin.
Atualmente os motores são importados, mas o objetivo dos pesquisadores é utilizar motores nacionais, especialmente os produzidos pela WEG, multinacional com sede em Jaraguá do Sul, no Norte de Santa Catarina.
“O único ponto positivo do motor importado é ser 30% mais barato. Porém, além de ser da melhor fabricante de motores elétricos do mundo, a assistência técnica da WEG é mais acessível e eles documentam muito bem o material. Isso nos concede uma vantagem gigantesca”, diz o professor.
O pesquisador destaca ainda que é possível diminuir o custo da conversão aumentando a produção.
Frenagem para recarregar a bateria
O projeto do IFSC também inova em outro ponto: o carro trabalha com uma corrente de carga alternada em que a bateria recarrega durante a frenagem. Lembrando que nos carros elétricos a bateria descarrega conforme o condutor acelera o veículo.
“Supondo que o motorista esteja descendo um morro, o carro vai frear assim que tirar o pé do acelerador e essa frenagem vai virar uma recarga para a bateria do veículo. É impossível pensar nesse retorno em um carro a combustão”, exemplifica Erwin.
Além da Fiorino, a Receita Federal fez a doação de uma Fiat Strada que receberá o sistema de conversão. A Renault também cedeu um Renault Kwid em regime de comodato, que receberá um sistema híbrido – ou seja, um motor a combustão que vai trabalhar em conjunto com o elétrico.
“Vamos instalar o motor direto na roda traseira, onde fica a parte do freio tambor, para que ele trabalhe com o motor a gasolina na frente. O nosso objetivo é que esse carro ande até 200 km com apenas um litro de gasolina”, complementa o professor.
O projeto conduzido pelo IFSC conta com aporte financeiro de R$ 6 milhões por meio da Celesc (Centrais Elétricas de Santa Catarina), da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e do polo Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação) do IFSC.
Setor cresce, mas popularização ainda enfrenta barreiras
Se para muitas pessoas os carros elétricos ainda não parecem uma possibilidade, para outras eles já fazem parte do dia a dia. Prova disso são os dados do Anuário Brasileiro da Indústria Automobilística de 2022, que mostram o aumento do licenciamento dos carros eletrificados no país.
Segundo o levantamento, um único carro elétrico novo foi licenciado em 2006. Já 14 anos depois (2020) foram 19.687, número que deu um salto em 2021, chegando a 34.839 – aumento de 76% no licenciamento de elétricos novos.