Educação
Egressa da UFFS recebe menção honrosa da Capes por tese de doutorado
Shaiane Carla Gaboardi foi aluna da primeira turma de Licenciatura em Geografia, entre 2010 e 2014.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), vinculada ao Ministério da Educação, divulgou, na semana passada, os vencedores do prêmio anual de teses de doutorado.
Shaiane Carla Gaboardi, egressa do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) Campus Erechim, recebeu a menção honrosa por sua tese desenvolvida na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) Campus Francisco Beltrão, instituição onde fez mestrado e doutorado no Programa de Pós-Graduação em Geografia.
Shaiane é natural de São Valentim, mas sempre residiu em Erechim. Ela fez sua graduação na UFFS entre 2010 e 2014. Atualmente, faz parte do corpo docente do Instituto Federal Catarinense (IFC) Campus Ibirama.
A menção honrosa concedida pela Capes foi pela tese intitulada “O uso de agrotóxicos no Sudoeste do Paraná a partir de uma perspectiva geográfica multiescalar”, trabalho que em que teve orientação de Luciano Zanetti Pessoa Candiotto e coorientação de Carolina Panis.
Na entrevista abaixo, Shaiane conta um pouco de sua trajetória acadêmica, desde os tempos da UFFS até o tema de sua tese. Confira.
Qual a importância da UFFS na sua formação?
Ter cursado Geografia na UFFS – Campus Erechim teve um impacto positivo na minha vida acadêmica e profissional. A base da minha formação foi construída na UFFS. Foi nessa Universidade em que tive o primeiro contato com a pesquisa, a partir da oportunidade de ser bolsista de um projeto no final do primeiro ano da graduação. Após a classificação e a seleção para a bolsa de Iniciação Científica no final de 2010, o projeto, que havia sido aprovado pelo CNPq para ser desenvolvido em parceria entre os campi Erechim e Cerro Largo, iniciou em 2011. O objetivo daquela pesquisa era entender o papel da UFFS e das instituições locais no processo da dinâmica do desenvolvimento rural no Norte e Noroeste do Rio Grande do Sul, especialmente no que se referia a agroecologia. Aquele foi um projeto com caráter interdisciplinar, pois havia um diálogo direto, especialmente, com alguns professores e bolsistas do curso de Agronomia.
Meu orientador de iniciação científica e TCC foi o professor Márcio Freitas Eduardo, ao qual posso dedicar este prêmio, juntamente com meus orientadores Luciano e Carolina. O professor Márcio me ensinou a ser pesquisadora e, nos meus trabalhos, sempre fez observações com alto rigor acadêmico. Além disso, ele acompanhou minha trajetória acadêmica, pois participou como membro das bancas de defesa de minha dissertação e tese.
Quais lembranças você tem da UFFS?
Tenho um carinho muito grande pela UFFS. Além de toda a questão específica do curso, disciplinas, trabalhos de campo, eventos etc., ali construí amizades incríveis que mantenho até hoje. Também conheci ótimos profissionais que me inspiraram a seguir a carreira acadêmica.
Quando você estava na graduação, você já pensava em ir para o mestrado e doutorado?
Com certeza. Os professores do curso sempre foram minha inspiração e os maiores incentivadores. Além disso, eu via a necessidade de aprofundar as discussões que começaram na Iniciação Científica e no trabalho de conclusão de curso. O mestrado e o doutorado oportunizaram a continuidade das atividades de pesquisa.
Fale um pouco da sua tese, que ganhou a menção honrosa. Do que ela trata?
A tese discutiu a problemática que envolve a utilização de agrotóxicos no espaço geográfico, especificamente em 27 municípios do Sudoeste do Paraná, a partir de uma perspectiva geográfica e multiescalar. Os resultados demonstraram que a racionalidade econômica impõe um padrão de produção de commodities com a utilização de agrotóxicos, os quais, sob o argumento de aumentar a produtividade da agricultura, acabam por contaminar os ecossistemas e podem afetar nocivamente a saúde dos sujeitos que os utilizam de forma ocupacional e daqueles que consomem alimentos e água contaminados. Nossa investigação na escala dos nanoterritórios detectou a presença de agrotóxicos associados a diversas doenças e classificados como potencialmente carcinogênicos para humanos em amostras biológicas (urina), em amostras de água de fontes e de poços artesianos, em amostras de solo, bem como em amostras de leite bovino, o qual é, muitas vezes, um componente básico da dieta humana, especialmente de crianças.
Atualmente você é professora no Instituto Federal Catarinense. Como tem sido essa experiência?
Para além de uma trajetória na pesquisa na pós-graduação, desde 2017 atuo como professora de Geografia no IFC Campus Ibirama, e trabalho diretamente com cursos técnicos integrados ao Ensino Médio, graduação e pós-graduação. O desafio em fazer a ponte entre a Geografia e as áreas técnicas é algo que se torna muito gratificante e provocativo. Nesses cinco anos venho tendo a oportunidade de trabalhar com uma ementa bem diversificada e desenvolver projetos de pesquisa e orientação de Iniciação Científica. Neste período, nossos projetos no IFC têm sido orientados pela problemática dos agrotóxicos e os possíveis impactos na saúde humana e ambiental, sobretudo no estado de Santa Catarina e nos municípios que fazem parte da Microrregião de Rio do Sul na qual o campus está inserido.
Hoje, no exercício de minha profissão, consigo identificar pontos assertivos e também lacunas de minha formação, porque durante a consolidação da UFFS - Campus Erechim, houve alguns limitantes por estarmos em uma estrutura provisória, sem laboratórios e equipamentos adequados para aulas práticas. Entretanto, esses hiatos proporcionam a aproximação com colegas de profissão e também com os de outras áreas do conhecimento.
A partir desta ainda curta trajetória acadêmica na Geografia, consegui perceber as vantagens de trabalhar em equipes multidisciplinares, com profissionais que possuem habilidades e conhecimentos diferentes, mas que se complementam e enriquecem os debates e as pesquisas científicas, o que irá refletir também na nossa prática em sala de aula. A Geografia abriu as portas para enxergar o mundo de forma diferente, ou seja, para além das formas da paisagem, mas como uma lente que nos faz ver as injustiças socioambientais e que nos motiva a pensar, denunciar e propor alternativas às adversidades que nos cercam.