Ciência
Estudo aponta células modificadas capazes de combater infecções e tumores
O estudo realizado abre novos caminhos de pesquisa.
Um estudo realizado por pesquisadores da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo) descobriu que um tipo de célula modificada pelo envelhecimento ou por infecções (ou seja, senescentes) adquire a nova função de contribuir para eliminar células infectadas ou tumorais. O artigo sobre o tema, realizado pelos NDI (Núcleos de Doenças Infecciosas) e de Biotecnologia da Ufes, foi publicado na revista Nature Immunology, a mais importante do mundo na área.
As células estudadas são do tipo T CD8+, cuja principal função é a produção de citocinas (que agem como mediadores inflamatórios). Sua capacidade citotóxica é responsável pela destruição e pela eliminação de células infectadas e tumorais. Quando as células T CD8+ se tornam senescentes, sofrem modificações, conforme explica a pesquisadora assistente do NDI e doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Doenças Infecciosas Luciana Covre.
“Essas células são caracterizadas por apresentarem dano no DNA, pela perda da capacidade de replicação e redução na atividade do receptor TCR, funções muito importantes da resposta imune, que ajudam a garantir a especificidade da resposta e o aumento do número de células necessário para enfrentar uma infecção, por exemplo”, detalha.
A pesquisa aponta que, apesar de não ter a mesma resposta imune anterior, essas células T CD8+ senescentes adquirem uma nova forma de se manterem ativas na resposta imune, exercendo sua capacidade citotóxica para eliminar células infectadas e tumorais de forma mais rápida, assemelhando-se a células de imunidade inata.
Segundo o estudo, essa semelhança é alcançada uma vez que as células T CD8+ senescentes sofrem alteração fenotípica e adquirem receptores de superfície (NKG2D) e moléculas de sinalização intracelular (DAP-12). Além disso, essas células têm um aumento de proteínas em seu interior conhecidas como sestrinas (Sestrin2), que detectam estímulos que podem levar a um estresse da célula.
A importância da sestrina foi verificada por meio da inibição de seu funcionamento, tanto in vitro quanto in vivo, com camundongos. No estudo, foi possível verificar que, quando a proteína Sestrin2 não estava ativa, a célula T CD8+ senescente perdia sua função de célula inata.
“Acreditamos que essas alterações que ocorrem com as células T CD8+ senescentes façam parte de uma adaptação do sistema imunológico na tentativa de manter respostas imunes eficazes. Visto que essas células se acumulam durante o envelhecimento e/ou infecções, e que são células funcionais, elas podem trazer benefícios para eliminar processos infecciosos e células tumorais. No entanto, é sempre importante ressaltar que, em excesso, essas células podem elevar o risco de doenças autoimunes e inflamatórias”, avalia a pesquisadora.
O estudo realizado abre novos caminhos de pesquisa, segundo Luciana Covre. Dentre as possibilidades, estão a análise do papel dessas células em diferentes doenças e o controle da função dessas células -para terapias ou para a regulação de sua função, se estiverem causando danos ao corpo.