Agro
Exportações do agronegócio do RS atingem US$ 15,3 bi em 2021, maior valor da série histórica
Com destaque para as vendas de soja, crescimento foi de 52,4% em relação ao ano anterior
Impulsionada pelas vendas de soja no quarto trimestre, que registraram um crescimento de 549,9% em relação ao mesmo período do ano anterior, as exportações do agronegócio gaúcho somaram US$ 15,3 bilhões em 2021, uma alta de 52,4% na comparação com 2020. O valor é o maior registrado desde o início da série histórica em 1997 e representa um aumento de US$ 5,3 bilhões em termos absolutos.
Dos cinco principais setores exportadores do agronegócio do Rio Grande do Sul, o complexo soja (US$ 7,8 bilhões; + 104,6%) foi o mais representativo tanto em números absolutos quanto em alta percentual. Os setores de carnes (US$ 2,3 bilhões; +17,3%), produtos florestais (US$ 1,5 bilhão; +53,1%) e cereais, farinhas e preparações (US$ 697,9 milhões; +4,5%) também apresentaram alta, enquanto o fumo (US$ 1,2 bilhão; -8,9%) foi o único a registrar queda nas vendas em 2021.
Os dados fazem parte do boletim Indicadores do Agronegócio do RS, divulgado nesta quinta-feira (10/2). Elaborado pelos pesquisadores Sérgio Leusin Júnior e Rodrigo Feix, do Departamento de Economia e Estatística (DEE), vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG), o documento apresenta números das exportações e do emprego formal no setor no Estado relativos ao quarto trimestre e ao acumulado de 2021.
Recordes na soja e carnes
No complexo soja, o desempenho de 2021 foi puxado pelas exportações do grão (US$ 6,2 bilhões; +111,1%), farelo (US$ 1,2 bilhão; +47,3%) e óleo (US$ 422 milhões; +449,4%). Sem o impacto da estiagem na produção da oleaginosa, que deixou os estoques praticamente zerados no final de 2020, os números do quarto trimestre do ano foram os definidores para a alta anual. No último trimestre de 2021 as exportações da soja grão subiram 5.055,8% (mais US$ 1,2 bilhão) na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Além da maior oferta gaúcha, o aumento nos preços internacionais da commodity, influenciado por uma série de fatores, impactou nos números finais das exportações. "A pandemia, a produção menor de soja nos Estados Unidos, as dificuldades para o escoamento da safra argentina, estoques globais baixos e a ampliação da demanda chinesa por soja e milho foram determinantes para a escalada nos preços", destaca Leusin no documento.
No setor de carnes, 2021 foi marcado pelo crescimento nas exportações da carne de frango (US$ 1,2 bilhão; +27,7%) e da suína (US$ 711 milhões; +13,3%). A carne bovina registrou queda nas vendas (US$ 308 milhões; -6%), movimento atribuído no boletim ao embargo promovido pela China no período entre setembro e dezembro. Ainda assim, o setor de carnes registrou em 2021 o maior volume exportado na história, com 1,2 milhão de toneladas comercializadas, 0,71% superior à melhor marca anterior, de 2008.
Nos produtos florestais, o desempenho em 2021 será lembrado pelo aumento nos preços internacionais da celulose. As vendas do produto gaúcho chegaram a US$ 1 bilhão, uma alta de 56,3% na comparação com 2020, enquanto a quantidade de material exportado ficou praticamente estável (+1,8%). No segmento de cereais, farinhas e preparações, o trigo apresentou a principal variação positiva (US$ 259 milhões; + 132%) e o arroz a maior queda nas vendas (US$ 323 milhões; -28,5%).
No setor de fumo, as vendas externas do fumo não manufaturado, principal produto do segmento, tiveram queda de 8,3% no ano, totalizando US$ 1,1 bilhão em exportações. Os números foram puxados pela queda observada no quarto trimestre na comparação com o mesmo período de 2020 (US$ 331 milhões; -18,4%).
Principais destinos
A China manteve a liderança entre os principais destinos das exportações do agronegócio gaúcho em 2021, com larga vantagem em relação aos demais países da lista. A nação asiática foi a responsável por 48,6% das compras, seguida de União Europeia (11,2%), Estados Unidos (4,4%), Coreia do Sul (3%) e Vietnã (2,4%). Em número absolutos, o aumento nas vendas externas para a China foi de US$ 3,3 bilhões, uma alta de 78,9% quando comparado com 2020, puxada pela soja em grão.
Perspectivas 2022
Os preços em alta da soja registrados em 2021 devem ter continuidade ao longo de 2022, aponta o documento do DEE/SPGG. A estiagem em curso no Rio Grande do Sul, que afeta a produção da oleaginosa, será também um elemento que pressionará os preços, mas o principal elemento definidor das vendas externas em 2022 será a dimensão da safra agrícola, considerando os impactos significativos da atual estiagem nos níveis de produtividade.
Outra perspectiva apontada no boletim é para a recomposição do rebanho de suínos da China, afetado pela peste suína africana nos últimos quatro anos. O maior número de animais diminui a dependência do país asiático da produção de outros países, o que deve obrigar produtores gaúchos a buscarem novos mercados para compensar a provável redução nas exportações. A Rússia, que já foi o principal destino de vendas da carne suína do Rio Grande do Sul, pode surgir como alternativa a partir da liberação de exportação de novos frigoríficos para o país.
Emprego no agronegócio
Em dezembro de 2021, o Rio Grande do Sul contava com 350.549 vínculos ativos de emprego com carteira assinada no agronegócio. O saldo de postos de trabalho foi de 17.906 vínculos, uma alta em relação ao ano anterior, em que a diferença entre admissões e desligamentos foi de 10.688 postos. O saldo de 2021 no agro representou 13% do total de empregos gerados no Estado, considerando todos os setores da economia, que encerrou o ano com 140.281 postos formais.
Considerando apenas o quarto trimestre do ano passado, o saldo de vínculos formais criados foi de 1.166 empregos, uma redução em comparação ao mesmo período de 2020, quando o número chegou a 3.439 postos. O período, conforme o documento, é considerado o de maior equilíbrio entre admissões e desligamentos de trabalhadores formais.
"A sazonalidade da produção agropecuária local determina que, via de regra, o primeiro trimestre seja o de maior admissão, em razão do crescimento da demanda nas atividades de colheita, recebimento, processamento e comercialização da safra de verão, seguido do segundo e do terceiro trimestres, que tendem a ter saldos negativos por conta da desmobilização dessa mão de obra", explica o pesquisador Rodrigo Feix.
Por área
Em 2021, o setor de fabricação de tratores, máquinas e equipamentos agropecuários registrou o maior saldo de empregos no agronegócio gaúcho (5.347), seguido do comércio atacadista de produtos agropecuários e agroindustriais (3.774), de fabricação de produtos intermediários de madeira (1.438) e de produção de lavouras temporárias (939). Na outra ponta da lista, os segmentos de fabricação de conservas (-578) e de abate e fabricação de produtos de carne (-320) registraram as maiores perdas de empregos no ano.
De acordo com o boletim, a redução na indústria de carnes, principal empregadora formal do agronegócio gaúcho em 2021 com um estoque de 66.965 postos, é um sinal de alerta para o setor, em especial para pequenos e médios produtores de aves e suínos.
"A indústria enfrenta um ambiente desafiador tanto no mercado interno quanto no internacional. A projetada quebra na safra de grãos na Região Sul tende a acentuar a alta no custo de produção, em um contexto de alto desemprego e redução do poder de compra", avalia Feix.