Inédito no RS, Diagnóstico Guarani fortalece luta pela garantia de direitos

Por Assessoria Emater Publicado em 30/04/2025 20:23 - Atualizado em 30/04/2025 20:51

“Aguyjevete". Com esta expressão, que representa o desejo de bem-estar, saúde e plenitude, os indígenas Guarani, da Aldeia Nheengatu, no município de Viamão, receberam representantes da Emater/RS-Ascar, de secretarias de Estado e parcerias, para a apresentação pública do Diagnóstico das Comunidades Guarani no Rio Grande do Sul, realizado no ano passado pela Emater/RS-Ascar. O lançamento do Diagnóstico Guarani aconteceu na tarde de terça-feira (29/04) e contou com a participação de lideranças indígenas, como caciques e conselheiros do Conselho Estadual dos Povos Indígenas (Cepi), de diversas regiões do Estado, como da região das Missões.

“Ao chegar na aldeia, as pessoas se purificam pelo som e pela fumaça do fogo e do cachimbo, instrumento de luta do povo Guarani”, diz a antropóloga e extensionista da Emater/RS-Ascar, Mariana de Andrade Soares, coordenadora do levantamento, ao iniciar a apresentação do Diagnóstico, ao lado do diretor técnico da Emater/RS, Claudinei Baldissera, e do representante da SDR. Aníbal Ribas, assessor do secretário Vilson Covatti.

Foto: Adriane Bertoglio Rodrigues, jornalista Emater/RS-Ascar

Claudinei Baldissera, diretor técnico da Emater/RS, avalia a importância do Diagnóstico, realizado junto a 62 aldeias em 36 municípios gaúchos, envolvendo mais de 4 mil pessoas indígenas Guarani no Estado. “O documento traz elementos importantes para a SDR, para o Governo do Estado e para os municípios, mas especialmente para a Emater, através das ações de Assistência Técnica e Extensão Rural e Social, levando o melhor desempenho das nossas equipes técnicas no trabalho com as comunidades indígenas”, ressalta.

TERRITÓRIO E ARTE


Na Aldeia Nheengatu vivem 53 famílias, em torno de 200 pessoas, desde crianças de colo a idosos. Para o cacique Eloir de Oliveira ou Verá Xondaro, sujo nome indígena significa Brilho do Relâmpago, “o Diagnóstico é uma ferramenta de luta que nos traz mais força, para defendermos nossos direitos junto aos órgãos responsáveis e ao mesmo tempo fazer com que os governos vejam a realidade das populações Guarani no Estado, para que as políticas públicas sejam construídas e aplicadas nas aldeias”, diz, ao se referir aos eixos abordados nas entrevistas, como território, infraestrutura básica, educação, saúde, organização econômica e produtiva, e organização e espaços de discussão e de deliberação.

“A questão dos territórios é o ponto principal das comunidades Guarani, porque sem território a gente não tem acesso às políticas públicas”, desabafa o cacique, ao exemplificar o pedido de uma escola na aldeia, onde há uma retomada de território. “O primeiro questionamento do Estado é que a terra não é regularizada. Aí já começa o empecilho, já começa a batalha”, lamenta o cacique, ao destacar que “a questão da regularização fundiária é extremamente urgente, emergente, nas aldeias do Guarani porque, de 62 aldeias, apenas sete estão demarcadas e homologadas. As demais são acampamentos, terras cedidas por prefeituras ou são retomadas em terras públicas”. Para o cacique Verá Xondaro, a esperança é amenizar esse, que é um dos maiores problemas que o Guarani enfrenta hoje.

Como riqueza valorizada pelo Diagnóstico está o artesanato, considerado patrimônio sagrado, pois carrega em si a cultura Guarani. “O artesanato é a prática do cotidiano das mulheres, dos jovens, dos adultos, de toda a aldeia, e o foco está na preservação desse saber milenar”, analisa o cacique, que cita também a música como parte do rito sagrado dos Guarani, entoada e dançada para receber pessoas e, ao mesmo tempo, fortalecer e purificar espiritualmente, pois as letras repassam os ensinamentos indígenas.

O VIVER GUARANI


“Nós, Guarani, vivemos em dois mundos. O mundo nosso, que é dentro da aldeia, onde a gente só fala Guarani, vive o viver Guarani, a cultura Guarani, a língua, a crença, as músicas e a espiritualidade Guarani. Porém, a gente tem esse mundo externo, que também ocupamos e usufruímos, mas que temos que ter todos os cuidados possíveis, porque esse mundo externo tem vários perigos, como o de esquecer a sua música, seu canto, e querer cantar a música que não é da sua cultura”, alerta o cacique, ao defender a preservação da cultura nativa e tradicional dos Guarani. “Temos que preservar o que é nosso. Por isso, nossas reuniões e aconselhamentos são cotidianos e, como liderança política, temos a obrigação de orientar e mostrar os perigos que têm nesse mundo externo”, salienta.

Essa realidade do cotidiano Guarani é revelada através do Diagnóstico, que se propõe a despertar, no Estado, maior atenção à população indígena, “com respeito e reconhecimento. A gente não está implorando nada mais do que um direito básico de atenção e redução da precariedade em que se encontra a maioria dos indígenas no RS”, ressalta o cacique Verá Xondaro.

Para a extensionista Mariana, que coordenou a realização do Diagnóstico, esse documento apresenta as vulnerabilidades e dificuldades “e dá visibilidade às potencialidades e às fortalezas que o povo Guarani tem muito a nos ensinar, pois mesmo vivendo em condições mais adversas possíveis, decorrência desse processo histórico e colonial de violação de direitos, eles ainda reproduzem o seu modo de saber e fazer, como o artesanato tradicional, a preservação das sementes verdadeiras, como guardiões desse patrimônio, e mantêm toda uma prática de conservação e recuperação dos recursos naturais”, avalia Mariana, ao destacar que, em função das mudanças climáticas, essas comunidades, em decorrência das suas vulnerabilidades, são as mais afetadas, ao mesmo tempo em que são as que mais contribuem para a preservação ambiental, se preocupando com o futuro de seus filhos e netos, enquanto humanidade”, conclui.