Saúde

Influenza H3N2: O que se sabe sobre o vírus que circula no Brasil

Estados vivem aumento de casos de síndrome gripal; vacinas podem ter menor proteção contra essa cepa.

Por Agência AE Publicado em 17/12/2021 08:04 - Atualizado em 31/07/2024 09:20

A epidemia de gripe no Rio de Janeiro, provocada pela variante H3N2 do vírus influenza, já dá sinais em outros locais do país e deixa em alerta autoridades sanitárias, especialmente no momento em que muitos brasileiros vão viajar e se reunir com amigos e familiares.

A Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo registrou, nas primeiras duas semanas, 82% do número de casos de síndrome gripal contabilizados em todo o mês de novembro – o dado leva em conta pacientes com Covid-19 (cerca de metade). Em Salvador, também já está confirmado um surto de gripe.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) alertou no último dia 9 para o risco de o vírus influenza se espalhar pelo Brasil juntamente com o coronavírus.

A gripe registra letalidade menor que a Covid-19. Mesmo assim, grupos de risco (crianças, idosos, gestantes e indivíduos com comorbidades) podem evoluir, mais facilmente, para casos graves.

O que é o H3N2

Assim como o H1N1, o H3N2 é um subtipo de influenzavírus A. As diferenças entre eles ocorrem por mudanças nas proteínas de superfície – hemaglutinina e neuraminidase.

O professor Alexandre Naime Barbosa, chefe da infectologia da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) em Botucatu, ressalta que as vacinas usadas hoje no mundo ainda não conferem proteção completa contra esse tipo específico de H3N2.

“O H3N2 que está circulando é o que a gente chama de variante Darwin, não é o H3N2 que está na vacina da gripe atual. A vacina atual talvez dê uma imunidade cruzada baixa ou moderada. Então, isso explica por que quem foi vacinado pode, eventualmente, ter quadros de gripe por esta cepa. Mas os não vacinados ainda têm mais probabilidade de se infectar e ter quadros graves. Tivemos um índice muito baixo de vacinação contra influenza.”

O vírus que está por trás do aumento de casos de gripe não é novo, mas começou a circular com mais intensidade no hemisfério norte nos últimos meses, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a incluí-lo, em setembro, nas recomendações para atualizações das vacinas contra influenza para 2022 no hemisfério sul.

O Influenza Research Database, um banco de dados global com informações sobre os tipos de vírus da gripe já identificados, mostra que a cepa H3N2 apareceu pela primeira vez em 1999 na Austrália e teve o genoma submetido ao GenBank em 2008.

Sintomas: o que muda?

Muitas pessoas que pegaram gripe recentemente relataram sintomas intensos, como febre alta e um quadro de extrema indisposição.

Barbosa explica que, independentemente do tipo de cepa, esses são sintomas característicos da infecção pelo influenza, principalmente em quem não se vacinou.

“O influenza em geral dá um quadro muito agudo, súbito, de mal-estar, febre alta, prostração, é uma sensação bem intensa. Muitas vezes o paciente fala que parece que vai morrer. (Causa) uma apatia muito grande, a pessoa fica largada, não consegue sair da cama. É diferente da Covid, que é um pouco mais lenta no começo. Também dá dor no corpo, mas não derruba tão rápido quanto a influenza.”

Ele acrescenta que a febre costuma ser mais alta do que a da Covid-19, além de os pacientes apresentarem adinamia, que é a falta de força muscular.

Ainda vale a pena tomar a vacina?

Na avaliação do infectologista, é importante aumentar a cobertura vacinal, mesmo que a vacina não tenha a melhor proteção contra o H3N2 Darwin.

Em todo o Brasil, apenas 42% do público-alvo tinha tomado a vacina da gripe até julho, quando o Ministério da Saúde expandiu a campanha para a população em geral.

Um dos motivos apontados pelos especialistas para a baixa procura pela vacina da gripe era o tempo de intervalo recomendado entre os imunizantes de Covid-19 e influenza, de duas semanas, o que levou muita gente a dar preferência à primeira.

No fim de setembro, o Ministério da Saúde passou a permitir a aplicação das injeções no mesmo momento. Mesmo assim, não houve aumento pela procura da vacina antigripe.

Prevenção

Pelo fato de o influenza ser um vírus respiratório, assim como o que causa a Covid-19, a prevenção contra ele ocorre da mesma forma: com distanciamento físico entre as pessoas, uso de máscara e higiene das mãos.

O afrouxamento das medidas restritivas nos últimos dois meses é apontado por pesquisadores da Fiocruz como um dos fatores que contribuíram para a epidemia de gripe no Rio de Janeiro e que pode se alastrar nas próximas semanas.

Em caso de qualquer sintoma gripal, Barbosa lembra ser importante buscar um serviço de saúde. “Primeiro, porque é preciso excluir (a possibilidade de ser) Covid. Segundo, porque, principalmente na rede privada, existe essa possibilidade de painel viral (para identificar o vírus específico que o infectou) – existem testes rápidos na rede pública, mas não diferenciam qual tipo de influenza é.”

Ao contrário da Covid-19, a gripe pode ser combatida com um antiviral já aprovado: o oseltamivir. Ao confirmar que se trata de infecção por influenza, o médico pode lançar mão dessa droga nas primeiras 72 horas desde o início dos sintomas.

“Ele diminui o tempo de sintomas e a gravidade. É indicado a grupos de risco: idosos, pessoas com comorbidades e gestantes.”

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