Rio Grande do Sul
Litíase Renal e alimentação
Por Paulo Roberto Dall’ Agnol - Médico Nefrologista do Hospital de Caridade de Erechim
A nefrolitíase (cálculos renais) acomete cerca de 12% das pessoas que vivem em países desenvolvidos e em desenvolvimento. Sua incidência, contudo, tem aumentado ao lado de problemas relacionados às mudanças nos padrões alimentares da população como obesidade, hipertensão e diabetes mellitus.
Apesar de ser influenciada por diferentes fatores, a composição da urina é grandemente determinada pela composição da dieta do indivíduo. Vários estudos evidenciam que a dieta típica dos países industrializados, rica em sódio, em proteínas de origem animal e bebidas adoçadas com açúcar e frutose, tem como consequência uma elevada excreção de cálcio, ácido úrico, oxalato e fósforo e uma diminuição do citrato e pH urinários, favorecendo, assim, a formação dos cálculos. Por outro lado, um consumo adequado de frutas, legumes e verduras parece ser um fator protetor para a formação dos cálculos, por estar diretamente relacionado à ingestão de fatores antilito-gênicos como potássio, magnésio, citrato e fitato.
Desta forma, um aconselhamento nutricional para a prevenção da ocorrência e também da recorrência dos cálculos é uma estratégia conveniente tanto para profissionais como para os pacientes por ser economicamente acessível e segura. Importante observar que, para a obtenção de melhores resultados, preconiza-se que as recomendações dietéticas devem ser estabelecidas de acordo com o tipo de cálculo e as características da análise de urina de 24h. Por exemplo, as orientações dietéticas para os formadores de cálculos de oxalato de cálcio não são exatamente as mesmas empregadas para indivíduos que apresentam cálculos de ácido úrico. E, para aqueles cujos cálculos são de origem infecciosa (estruvita), nenhuma influência da composição da dieta foi evidenciada.
De qualquer forma, um hábito que deve ser aconselhado a todos os indivíduos com nefrolitíase é o aumento da ingestão hídrica, visando a diminuição da concentração urinária dos componentes litiásicos. Embora a quantidade exata não tenha sido ainda estabelecida, o consumo mínimo de 30 ml/kg de peso por dia deve ser encorajado. No âmbito populacional, visando à prevenção do problema, o incentivo à alimentação equilibrada parece ser a estratégia mais adequada.
Com relação à investigação da dieta, apesar das limitações inerentes às metodologias empregadas para avaliação do consumo alimentar, observa-se que o consumo elevado de proteínas, sódio e ingestão abaixo do recomendado de cálcio, potássio e líquidos favorecem a recorrência da nefrolitíase. Esses achados reforçam a importância do aconselhamento e acompanhamento nutricionais dos indivíduos acometidos pelo problema que, além de poder comprometer a qualidade de vida, pode ter como consequência a perda irreversível da função renal.
Como regra geral, para diminuirmos a formação de cálculos renais, devemos evitar o consumo excessivo de sal, açúcares/carboidratos e carnes, manter uma dieta rica em frutas, verduras e legumes e ingerir pelo menos 2 litros de água diariamente. Além de uma alimentação saudável devemos manter uma atividade física regular e evitar o excesso de peso.