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Litoral Norte de SC pode ‘afundar’ com aquecimento global?

Mapa traz previsão alarmante. Site da Record SC publica reportagem com Análise do Climate Central, qie adverte: parte da costa corre risco de inundar até 2030, caso tendências de aquecimento global persistam

Por ndmais Publicado em 31/03/2024 20:14 - Atualizado em 31/07/2024 09:20

O aquecimento global é um dos temas mais debatidos da atualidade, e um dos principais medos é de que cidades possam ser tomadas pelo mar com o aumento das temperaturas e, consequentemente, o derretimento de geleiras. A preocupação também existe no Brasil, e o Litoral Norte de Santa Catarina corre risco real de sofrer com o problema.

Litoral Norte de Santa Catarina pode ter sérios problemas de inundações com o aquecimento global (imagem gerada por inteligência artificial). – Foto: Reprodução/Bing Image Creator

A organização sem fins lucrativos Climate Central, especializada em análise climática, divulgou em sua plataforma um mapa interativo que revela regiões potencialmente afetadas pelo aumento do nível do mar. Itajaí, Navegantes e Balneário Camboriú poderiam enfrentar significativas inundações em várias localidades já em 2030.

O mapa, baseado em dados do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), avalia, com base em topografia, áreas mais suscetíveis a inundações e erosões. Esses problemas são particularmente comuns na região, dada sua natureza litorânea e a presença de rios que cortam as cidades. Um aumento de apenas um metro no nível do mar já seria suficiente para causar danos significativos.

O principal impulsionador desses riscos costeiros é a emissão de dióxido de carbono (CO2), um dos principais contribuintes para o aquecimento global. Simplificadamente, o aumento da concentração desse gás na atmosfera eleva a temperatura global, acelerando assim o derretimento de geleiras.

Confira a previsão do Climate Central de inundações causadas pelo aquecimento global em 2030:

Para o professor da Univali (Universidade do Vale do Itajaí), oceanógrafo e geógrafo, Marcus Polette, a falta de adesão efetiva dos países ao Acordo de Paris de 2016 (COP-21), que visa fortalecer a resposta global às crises climáticas, é uma das principais razões por trás dessa previsão.

“O compromisso do COP-21 era de manter o aumento da temperatura média global bem abaixo de 2°C acima dos níveis pré-industriais e fazer esforços para limitar o aumento a 1,5°C acima desses níveis”, pontua o professor ao ND Mais. “Está claro que estamos cada vez mais vulneráveis às mudanças climáticas.”

Enchentes são relativamente comuns na região por chuvas, que causam cheia dos rios. – Foto: Prefeitura de Itajaí/Reprodução

Além de identificar as áreas mais suscetíveis a inundações com o aquecimento global, devido ao aumento do nível do mar, o mapa do Climate Central também projeta como essas regiões seriam afetadas em diferentes anos, caso as tendências de aumento do nível da água persistam.

Praias como Cabeçudas, Atalaia e Brava, em Itajaí, assim como bairros situados às margens do rio Itajaí-Açu, como Cordeiros e Murta, seriam inundados até 2030. O mesmo ocorreria na Meia Praia, em Navegantes, e na Barra Sul de Balneário Camboriú. Olhando mais adiante, para 2100, o panorama seria ainda pior, com vastas áreas submersas.

Polette explica que essa projeção é resultado da ocupação dos municípios em planície costeira de origem fluvial. Alguns bairros, por exemplo, foram construídos sobre a várzea do rio Itajaí-Açu, tornando-os particularmente vulneráveis a inundações, e mais ainda com o aquecimento global.

“Essas áreas são drenadas pela maior bacia hidrográfica de Santa Catarina, bem como pelo rio Itajaí-Mirim”, destaca Polette. “O crescimento urbano ocorreu de forma espontânea, e somente em 2001, com a implementação do Estatuto da Cidade, é que os municípios com mais de 20.000 habitantes foram obrigados a desenvolver Planos Diretores até 2006, com revisões em 2016.”

Rio Camboriú é um dos que podem contribuir para o alagamento de cidades no Litoral Norte. – Foto: Divulgação/Emasa

No entanto, segundo o professor, alguns critérios desses planos ainda não foram integralmente implementados, especialmente no que diz respeito à avaliação da vulnerabilidade das áreas propensas a eventos climáticos extremos. Portanto, seria crucial estabelecer estratégias para o uso seguro do solo nessas locais.

“É fundamental ter base científica, identificando áreas que devem ser conservadas ou até mesmo preservadas”, enfatiza. “Isso inclui a criação de áreas de escape para inundações, prática já comum na Europa, e a implementação de medidas para prevenir a erosão costeira, que tende a se agravar.”

Para Polette, o Litoral Norte ainda está distante da urgência para mitigar os impactos das mudanças climáticas e o aquecimento global. Isso não apenas colocaria em risco a submersão de áreas urbanas, mas também ameaçaria setores econômicos fundamentais, como agricultura e o turismo.

“[Possibilidade de] infestações de vetores, mudanças nos padrões de cultivo agrícola e, até mesmo, de impactos significativos nos municípios cuja economia depende do turismo de sol e praia”, conclui o professor.

Os mapas interativos disponibilizados pelo Climate Central podem ser acessados no site da entidade. Os usuários têm a opção de visualizar projeções do aquecimento global para diferentes anos, níveis do mar e comparativos de temperatura global, além de analisar os impactos diretos do derretimento das geleiras.

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