VALE DO TAQUARI

Livro com mais de 600 imagens documenta as inundações de 2023 e 2024 na Bacia Hidrográfica do Taquari-Antas

Obra gratuita registros reúne visões, análises técnicas e reflexões sobre os eventos climáticos extremos que transformam paisagens, memórias e trajetórias na Bacia Hidrográfica Taquari-Antas

Por Assessoria Univates Publicado em 17/05/2025 10:01 - Atualizado em 17/05/2025 10:09

Depois das águas turvas, dos escombros e do lodo deixaram as inundações que devastaram o Vale do Taquari entre setembro de 2023 e maio de 2024, nasceu um projeto que busca construir um entendimento coletivo sobre os eventos climáticos extremos e seu impacto na região.

Foi lançado neste mês de maio de 2025, quando o evento de 2024 completou um ano, o livro digital Marcas na paisagem: memórias para construir a resiliência no Vale do Taquari , obra gratuita e de acesso livre que reúne, em cerca de 230 páginas, mais de 600 imagens sobre os impactos, as causas e os caminhos possíveis diante das inundações e movimentos de massa que marcaram a história recente da região.

Capa de Marcas na paisagem - Crédito - Lucas George Wendt

O material em formato completo, digital e gratuito para reprodução pode ser acessado aqui .

Idealizada pela professora e pesquisadora Elisete Maria de Freitas, doutora em Botânica e docente pela Universidade do Vale do Taquari – Univates, a obra é fruto de uma construção coletiva que envolve o engenheiro ambiental Cleberton Bianchini, a fotógrafa Monique Bruxel, o jornalista Lucas George Wendt e o biólogo Mathias Hofstätter. Juntos, eles reuniram relatos, registros visuais e interpretações técnico-científicas para compor um testemunho dos extremos vívidos pela população do Vale do Taquari e de suas implicações ambientais, sociais e culturais. A diagramação do material foi feita pelo designer Marlon Cristófoli, da Editora da Univates.

Com registros fotográficos cedidos por numerosos profissionais e amadores, antes, durante e após as inundações, o livro não se limita à documentação da destruição, mas também à captura dos gestos de solidariedade, dos esforços de resistência e da força das comunidades que resistiram e continuarão resistindo. As imagens, em grande parte, foram reunidas a partir da colaboração da população.

Memória visual e crítica dos eventos

Dividido em oito capítulos, além de prefácio, introdução e referências, Marcas na paisagem traça uma linha narrativa que parte da contextualização geográfica e histórica do Vale do Taquari e da Bacia Hidrográfica Taquari-Antas, avançando por temas como os eventos climáticos extremos, os impactos sobre as matas ciliares, a fauna, a flora e as áreas urbanas e rurais, até chegar dimensões às simbólicas da superação, da memória e da educação ambiental a partir dos eventos.

As águas e as causas

Embora traga elementos emocionais e simbólicos, o fotolivro se ancora em dados técnicos e interpretações científicas. Um dos pontos centrais do projeto é revelar as causas estruturais históricas que potencializaram os impactos das cheias, como a manipulação das matas ciliares, o uso inadequado do solo, a urbanização desordenada e a ausência de políticas públicas eficazes de prevenção.

Além disso, o livro insere o Vale do Taquari em uma discussão mais ampla sobre mudanças climáticas e vulnerabilidade socioambiental. Ao mostrar como a topografia da região – com planaltos, encostas costeiras e barreiras de inundação – influência a dinâmica das águas, a obra contribui para a compreensão de que a convivência com o rio exige planejamento, conhecimento técnico e respeito às características naturais da paisagem.

O papel da Universidade

A Univates apoiou a elaboração e o lançamento do livro, reafirmando seu compromisso com a produção de conhecimento voltado à realidade local e à transformação social. O envolvimento da Universidade também se estende à curaria das imagens, à revisão dos conteúdos, à editoração e à disponibilização do e-book em suas plataformas institucionais, garantindo que a obra tenha ampla difusão e alcance diferentes públicos – de escolas a bibliotecas, de gestores públicos a pesquisadores, de cidadãos em geral a organizações da sociedade civil.

Capítulos em destaque

Entre os capítulos que mais chamam a atenção, destaca-se o de número 3 – Eventos extremos no Vale do Taquari e suas múltiplas consequências –, que reúne imagens e dados sobre os principais eventos de inundações que atingiram a Região em setembro de 2023, novembro de 2023 e maio de 2024.

Outro capítulo de destaque é o 4 – Impactos das inundações sobre as matas ciliares –, que analisa como a devastação dessas faixas vegetais ao longo dos cursos d'água contribuiu para o agravamento dos desastres. As imagens, feitas antes e depois das enchentes, revelam a extensão dos danos à vegetação nativa e as dificuldades de regeneração causadas em áreas críticas.

O último capítulo (8) – Superação, memória, educação e futuro – adota um tom esperançoso, sem perder o senso crítico. Traz depoimentos de moradores, lideranças comunitárias e políticas, professores e estudantes que viveram os efeitos das enchentes e agora participaram de projetos de educação ambiental, mapeamento de riscos e supervisão urbana com base em princípios de sustentabilidade e justiça social.

Um livro para o agora e o amanhã

O e-book não tem fins comerciais – o objetivo central é ampliar o debate público sobre os impactos das inundações, estimular a reflexão sobre o modelo de desenvolvimento vigente e inspirar práticas sustentáveis de ocupação e uso do território. O trabalho dos pesquisadores na concretização da obra foi voluntário. Para além das análises técnicas e das paisagens fotografadas, a força da obra está na multiplicidade de vozes que ela acolhe.

Depoimentos apresentam na obra relatos de perdas irreparáveis, como os agricultores que viram sua produção desaparecer, os comerciantes que recomeçaram do zero, as famílias que buscaram abrigo em escolas e ginásios improvisados. Ao lado dessas histórias, surgem também iniciativas de apoio mútuo, redes de solidariedade, mutirões e a esperança de que a ajuda seja mais do que física – que seja ética, ecológica e coletiva.Que esta obra possa inspirar cuidado, coragem e compromisso com um futuro mais equilibrado entre as pessoas e o meio ambiente.