Ciência
Meteoro duplamente raro é visto cruzando o céu no sul do Brasil
Câmeras do observatório espacial Heller & Jung, em Taquara, no RS e de uma estação de monitoramento em Tangará, em Santa Catarina, gravaram o evento.
Um meteoro duplamente raro cruzou o céu do Rio Grande do Sul na noite do último domingo. Além de se tratar de um fenômeno conhecido como earthgrazer, o astro também é o primeiro meteoro de origem interestelar registrado pela da Bramon (Rede Brasileira de Meteoros).
Câmeras do observatório espacial Heller & Jung, em Taquara, no Rio Grande do Sul, e de uma estação de monitoramento em Tangará, em Santa Catarina, gravaram o evento. Apesar de as imagens não terem capturado a trajetória completa do corpo celeste, algumas características levaram astrônomos a concluir que se trate de algo incomum.
“Um earthgrazer é um meteoro que atinge a atmosfera da Terra de raspão, percorre as camadas mais altas da terra e, dependendo do tamanho e velocidade, retorna ao espaço”, explica o mantenedor da estação de monitoramento em Tangaré, Thiago Boesing. “No caso, ele atingiu a atmosfera em um ângulo de 6,1°, em relação ao solo.”
“Geralmente, um earthgrazer também não brilha tão intensamente e não apresenta surtos de luminosidade (explosões) em relação aos demais meteoros”, pontua o mantenedor do Heller&Jung, Carlos Fernando Jung.
“Ele começou a brilhar a 162,7 km de altitude a sul de Capão Comprido, no Rio Grande do Sul, seguiu em direção ao norte a 230,7 mil km/h, percorrendo 243,6 km em 3,8 segundos, e desapareceu a 137 km de altitude, a leste de Carlos Barbosa, outra cidade no estado”, completa
Segundo o diretor técnico da Bramon, Marcelo Zurita, o meteoro do último domingo tinha uma velocidade surpreendente: quando atingiu a Terra, a velocidade sideral (relativa ao Sol) era superior a 46 km/s. Dadas as circunstâncias, ele acredita que o impacto com os gases atmosféricos tenham impulsionado de volta ao espaço — o mesmo efeito que ocorre quando uma pedra é arremessada rente a um lago, por exemplo.
A rápida velocidade do astro também reforça a hipótese de o astro ser oriundo de fora do Sistema Solar. Zurita explica que isso ocorre devido a um fenômeno conhecido como “velocidade de escape”.
“Em física, chamamos de velocidade de escape a mínima velocidade necessária que qualquer objeto deve atingir para escapar da atração gravitacional de corpos massivos, como planetas e estrelas. No caso do Sol, esta velocidade é de 42km/s”, esclarece. “Antes de atingir a Terra, o objeto viajava a uma velocidade de 46km/s. Isso é incompatível com qualquer objeto que orbita em torno do Sol”.
O registro pode ser considerado o mais importante já realizado pela Bramon e, sobretudo, pela estação de monitoramento em Tangará, que há pouco tempo integra a rede. Apesar de Boesing já ter capturado diversos meteoros de alta magnitude, para ele, este é, sem dúvida, o mais significativo.
“Além de ser um earthgrazer, o meteoro é também de origem interestelar, o que é um campo novo para a Bramon”, detalha.
Veja o momento exato em que o meteoro cruzou o céu: