Rio Grande do Sul

Meteorologistas explicam a recorrência de ciclones no RS

Os especialistas também apontam as previsões para o inverno e a primavera no Estado

Por Redação O Sul Publicado em 19/07/2023 09:07 - Atualizado em 03/06/2024 11:53

Após a ocorrência de três ciclones em menos de um mês no Rio Grande do Sul, meteorologistas explicam a reincidência desses eventos climáticos no Estado e apontam as perspectivas para a previsão do tempo nos próximos meses no Estado.

Flavio Varone, coordenador do Sistema de Monitoramento e Alertas Agroclimáticos da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação, disse que a ocorrência de ciclones é comum no Rio Grande do Sul. Na maioria das vezes, eles se formam sobre o oceano e não causam danos à população. Apenas quando se aproximam da costa podem acabar gerando transtornos maiores.

“A ocorrência de ciclones é bastante comum no Estado, principalmente no outono e no inverno. Geralmente, eles passam distantes da costa e não causam grandes problemas no continente. Porém, algumas vezes, se aproximam do litoral gaúcho, e isso pode trazer danos, prejuízos e eventos severos”, afirmou.

Nas últimas semanas, o primeiro e o segundo ciclones se formaram no litoral gaúcho, e o terceiro, sobre o continente, causando chuvas e ventos fortes, além de precipitações de granizo, que impactaram diversas cidades gaúchas.

O primeiro ciclone resultou em elevados acumulados de chuva, chegando a 300 milímetros em Maquiné, no Litoral Norte. O segundo foi de menor intensidade, e os acumulados alcançaram 120 milímetros. O terceiro, além dos acumulados, teve instabilidade suficiente para causar tempestades pontuais, com rajadas intensas de vento e acumulados de chuva atingindo 230 milímetros durante o período.

O primeiro e o terceiro fenômenos, que ocorreram, respectivamente, nos dias 15 de junho e 12 de julho, foram mais severos, enquanto o segundo, registrado em 8 de julho, não provocou tantos danos.

Meteorologistas também explicam a recorrência desses eventos em um curto intervalo de tempo. Segundo eles, o principal fator são as condições atmosféricas.

“A principal influência foi uma região de baixa pressão junto a um fluxo de umidade. Os três ciclones ocorreram devido ao avanço de uma frente fria, com uma região de baixa pressão e fluxo de umidade”, avaliou Lucas Fagundes, que atua na Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil do RS.
“Muitas vezes, o fenômeno se repete. Em muitos casos na história, houve a repetição com maior frequência em determinado período, devido ao padrão que predominava na atmosfera. Foi o que aconteceu nas últimas semanas”, acrescentou Varone.

A própria localização geográfica do Rio Grande do Sul também está entre as condicionantes. 

“Os ciclones são fenômenos bem comuns próximo do Estado, no extremo sul da América do Sul. O Rio Grande do Sul, em virtude de sua posição geográfica, naturalmente está associado com a passagem desses sistemas meteorológicos”, observou Varone.

El Niño

Para Varone e Fagundes, esses três ciclones ainda não possuem ligação com o El Niño. Entretanto, os meteorologistas afirmam que, em breve, o El Niño deve começar a influenciar o clima no Estado, podendo gerar situações adversas.

“O El Niño deve começar a agir no final do inverno e na primavera. Nesse período, os eventos extremos devem ficar mais intensos no Rio Grande do Sul, devido à influência desse fenômeno. Em razão da atuação do El Niño, a tendência é de que tenhamos eventos de chuvas fortes e tempestades no Estado durante a primavera”, ressaltou Fagundes.

Segundo o último boletim do Conselho Permanente de Agrometeorologia Aplicada do Estado do Rio Grande do Sul, no fim do trimestre entre julho e setembro, o El Niño deve atingir forte intensidade no Estado, levando ao aumento da precipitação pluvial sobre todo o território, com volumes de chuva acima da média em todas as regiões.

“Com o El Niño, poderemos ter uma evidência maior de ciclones. Até o final do inverno e, principalmente, durante a primavera, podem ocorrer eventos mais severos associados ao El Niño. Esses sistemas podem se intensificar um pouco mais, resultando em maior frequência de fenômenos adversos”, alertou Varone.

O meteorologista chamou a atenção para a primavera, que é o período em que o El Niño tem maior influência no Estado.

“Esse período já apresenta, por si só, eventos severos. A ocorrência de um El Niño muito forte pode intensificar esses fenômenos. Então, ao longo da próxima primavera, tempestades associadas com ventos fortes, granizo, chuva intensa, altos volumes acumulados em intervalos de tempo muito curtos, podem se tornar mais repetitivos”, avaliou.

Quanto às temperaturas, a Sala de Situação do governo gaúcho prevê que o inverno no Estado seguirá com a passagem de frentes frias, mas as temperaturas devem ficar acima da média climatológica.

Novo ciclone em julho

Até o momento, a hipótese de haver um novo ciclone na última semana de julho não está confirmada.

“Há essa projeção, mas nada muito concreto ainda. Requer monitoramento e precisa de confirmação. É uma previsão muito estendida, que pode mudar ao longo dos próximos dias e isso nem acontecer”, disse Varone.
“Por enquanto, a Sala de Situação e a Defesa Civil estão monitorando a situação do Estado e, se for necessário, emitiremos alertas”, complementou Fagundes.

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