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Nova anomalia mexe nas chuvas e no clima do Brasil
Alterações na temperatura das águas do Oceano Índico podem desencadear La Niña.
Um novo padrão de anomalias de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) no Oceano Índico pode alterar o clima e o regime de chuvas no Brasil nos próximos meses, revela a meteorologista Paola Bueno, da Meteored. Segundo ela, trata-se da fase negativa do Dipolo do Oceano Índico, ou DOI.
“Enquanto o El Niño segue em sua fase neutra no Pacífico Tropical, outro importante padrão de variabilidade climática tropical retorna à ativa, o Dipolo do Oceano Índico. O DOI consiste num padrão de anomalias opostas entre as porções oeste e leste do Oceano Índico Tropical. Essa diferença de temperatura implica em alterações na pressão, ventos e no regime de chuvas, afetando toda a circulação atmosférica sobre os trópicos, a chamada célula de Walker”, explica ela.
A agência meteorológica australiana Bureau of Meteorology (BOM) foi a primeira a confirmar o evento. “Essa é uma oscilação com fortes implicações no regime de chuvas e temperatura da Austrália. A agência prevê que, com a fase negativa do DOI, a Austrália receberá acumulados de chuva acima da média, principalmente no leste do país”, acrescenta.
De acordo com Paola Bueno, a última vez que o DOI esteve ativo foi em 2019, quando esteve em sua fase positiva – oposta à que é observada atualmente. “Foi uma das mais intensas registradas na história. Esse evento esteve associado a condições extremas de seca e temperaturas altas na Austrália, que desencadearam o pior episódio de incêndios florestais do país.
O que isso implica para o Brasil? Segundo a meteorologista, apesar de distante, variações de TSM no Oceano Índico podem influenciar as condições climáticas sobre o Brasil via padrões de teleconexões atmosféricas. “A porção tropical é mais afetada pelas alterações da célula de Walker enquanto que ondas de Rossby originadas no Índico ficam encarregadas de alterar o regime de chuvas sobre as latitudes médias”, explica.
“Em 2019 o Brasil foi bem impactado pela fase positiva do DOI, registrando um déficit de precipitação em quase todo o país durante os meses de primavera e atrasando o início da estação chuvosa. Enquanto no extremo sul do país (Rio Grande do Sul) foram registrados acumulados de precipitação acima da média”, aponta a especialista.
Ainda de acordo com ela, alguns estudos mostraram que a fase positiva do DOI pode causar ou influenciar um evento de El Niño, enquanto a fase negativa do DOI pode desencadear um evento de La Niña, devido principalmente às alterações dos ventos e TSM sobre o Pacífico Oeste. “Isso corrobora com a previsão de retorno da La Niña nos próximos meses!”, conclui.