Segurança
Polícia Civil deflagra megaoperação Consortium no RS, SC e Paraná
O objetivo é desarticular o maior esquema logístico de distribuição de maconha do RS.
O Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) da Polícia Civil deflagrou ao amanhecer desta segunda-feira a megaoperação Consortium no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, com o objetivo de desarticular o maior esquema logístico de distribuição de maconha do RS. A facção criminosa Os Manos é a responsável por trazer entre duas e três toneladas da droga a cada 15 dias de países produtores, como Paraguai, para a Região Metropolitana de Porto Alegre e Vale do Rio dos Sinos.
No RS, o entorpecente era entregue inclusive às facções rivais que o adquiriam conforme percentuais estabelecidos previamente, sendo montado um consórcio entre os membros. Além do tráfico de drogas, o grupo criminoso fazia também a lavagem de dinheiro ilícito. O total movimentado por dois núcleos da organização pode chegar a R$ 104 milhões somente nos últimos dois anos, quando a investigação com a 3ª Delegacia de Investigações, sob comando do delegado Gabriel Borges, e a Delegacia de Repressão à Lavagem de Dinheiro coordenada pelo delegado Adriano Nonnenmacher.
Cerca de 500 agentes foram mobilizados nesta manhã para o cumprimento de 375 ordens judiciais, entre mandados de busca e apreensão; mandados de prisões preventivas e temporárias; quebras bancárias, fiscais, financeiras e telemáticas; extração de dados telefônicos; bloqueio de contas bancárias e valores mobiliários; indisponibilidades de imóveis e de veículos, além do recolhimento de dinheiro e veículos de luxo. Estão sendo sequestrados ou indisponibilizados imóveis, veículos, contas bancárias, ativos na bolsa de valores, dinheiro em espécie, que podem chegar a R$ 5 milhões.
A ação ocorreu nas cidades de Porto Alegre, Gravataí, Cachoeirinha, Esteio, Estância Velha, Novo Hamburgo, Tramandaí, Osório, Charqueadas, Viamão, Canoas, Soledade, Pelotas, Passo Fundo e Cruz Alta, além de Florianópolis e Balneário Camboriú, em Santa Catarina, e Marechal Cândido Rondon, no Paraná. Houve apoio do Departamento de Polícia Metropolitana, Departamento de Polícia do Interior, Departamento Estadual de Investigações Criminais, Coordenadoria de Recursos Especiais e Gabinete de Inteligência e Assuntos Estratégicos da Polícia Civil do RS, bem como da Brigada Militar, Superintendência dos Serviços Penitenciários, Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Polícia Civil de SC e Polícia Civil do PR.
Durante o trabalho investigativo, as equipes do Denarc identificaram um núcleo voltado à lavagem de capitais. A pós meses de análises bancárias, financeiras, fiscais, telemáticas, extração de dados telefônicos e diligências externas, os policiais civis concluíram que os traficantes, com atuação a nível de atacado, atuavam em várias cidades gaúchas e mantinham conexões em SC e PR na parte logística e lavagem de capitais.
No sistema financeiro, eles utilizavam técnicas de dissimulação para burlar fiscalizações contábeis e rastreios dos ativos, mediante smurfing e fracionamentos, seguidos de pulverização entre gerentes financeiros e laranjas. Utilizavam muitos cheques para pagamentos e descontos com outro operador financeiro de vulto da organização, um empresário identificado também na operação Erga Omnes e que encontra-se atualmente preso. Os pagamentos ao empresário/operador financeiro eram feitos por “laranjas” dos traficantes, bem como em alguns casos diretamente por eles.
Na ocultação de veículos de luxo, usavam “laranjas” para esconder os verdadeiros proprietários. Os carros serviam ainda como moeda de troca entre os membros. Um alvo gaúcho por exemplo, morador em SC e que foi recentemente detido, teve em sua posse aproximadamente R$ 1,8 milhões desses automóveis, suspeito de ser o mediador com atacadistas, além de usar técnicas de burla no sistema bancário para pagamentos aos demais alvos.
Os agentes do Denarc apuraram a posse de carros de luxo e lanchas, com uso de cadeia de procurações, dissimulando a real propriedade de bens. Um dos líderes ainda ensinava outros cúmplices sobre como "lavar dinheiro", captados nas interceptações telemáticas.No período de apuração, os policiais civis comprovaram a alta especialização dos criminosos, pois utilizavam “laranjas” e operadores em sua maioria sem antecedentes e usando comerciantes, empresários e parentes próximos. Nas empresas reais e algumas de fachada, eles mesclavam ilícitos para conta de passagem, gerando confusão patrimonial proposital no fluxo de valores com suas pessoas físicas, com finalidade de ocultação, bem como dissimulavam nos contratos sociais alguns funcionários como sócios, para o empresário/operador financeiro também utilizar a conta bancária destes para o branqueamento.
Todos esses valores eram oriundos do dinheiro obtido com o tráfico de drogas, conduzido pelo segundo núcleo da organização. O diretor de investigações do Denarc, delegado Alencar Carraro, ressaltou que a megaoperação foi “direcionada a grandes operadores de facção sediada na Grande Porto Alegre, com abrangência interestadual, responsáveis pela compra e distribuição em larga escala de drogas no Estado”.
Para o delegado Gabriel Borges, “o trabalho integrado entre as delegacias do departamento possibilitou, ao mesmo tempo, desmantelar o esquema de transporte de drogas e lavagem de dinheiro”, Por sua vez, o delegado Adriano Nonnenmacher destacou que “o narcotráfico está se utilizando de vários segmentos da sociedade, com recrutamento de empresários, pessoas sem antecedentes, bem como agindo com discrição, criando uma rede complexa de lavagem de capitais”.