Segurança
Promotora do júri da Kiss pede condenação dos 4 réus por homicídio doloso
Lúcia Callegari disse que o uso de fogos seria comum tanto pela boate quanto pelos músicos da banda.
O Ministério Público pediu nesta quinta-feira (9) a condenação dos quatro réus acusados de homicídio doloso pela morte das vítimas da boate Kiss. Os representantes do Ministério Público apontaram que, apesar de não haver uma intenção deliberada de matar – que caracteriza um homicídio doloso – os réus “assumiram o risco” ao não fazer a prevenção adequada de incêndio e ao burlar regras.
“Quando se acredita na sorte, se assume um risco”, disse a promotora Lúcia Helena Callegari. Juntamente com seus assistentes, ela apresentou provas contra os sócios Elissandro Spohr e Mauro Hoffman, que eram os donos da Kiss, Marcelo dos Santos, vocalista da banda, e o produtor musical Luciano Bonilha.
Ela destacou fatos como a superlotação do espaço, acima das 691 pessoas autorizadas à época, o uso de uma espuma no teto que teria sido uma alternativa barata para tentar reduzir o impacto acústico da casa e o artefato pirotécnico inadequado para ambiente fechado usado pela banda.
Além disso, a promotora apontou atos praticados pelos réus após o início do incêndio que demonstraram falta de preocupação em ajudar a salvar quem estava no interior da boate.
Lúcia Helena elevou o tom ao acusar Spohr de ter mandado fechar as portas porque os jovens estariam deixando a casa noturna sem pagar as comandas de consumo. Ela acusou ainda o réu Mauro Hoffmann de ter virado as costas e não ter ajudado a carregar sobreviventes. “Pessoas insensíveis preocupadas com o patrimônio, com o pagamento”, disse.
Lúcia Helena Callegari destacou ainda o fato de o réu Luciano Bonilha, assistente da banda, ter comprado um artefato pirotécnico que custou cerca de R$ 2 e era inadequado para um ambiente interno. Afirmou que não foram seguidas as prevenções e autorizações obrigatórias para realização de shows com uso de fogo. Citou ainda o fato de o vocalista Marcelo dos Santos ter pulado ao usar o artefato, quando o uso correto seria parado.
Durante sua exposição, ela exibiu imagens das vítimas amontoadas nos banheiros, vídeos de jovens gritando na tentativa de sair da boate e áudios de pessoas telefonando para os bombeiros e pedindo socorro. Nesse momento, alguns pais abalados deixaram a plateia do plenário. As imagens não foram exibidas na transmissão do júri pelas redes sociais. Mais cedo, eles tinham se dado as mãos ao início das falas da Promotoria.
Resumo da tragédia
O incêndio da Boate Kiss aconteceu na madrugada de 27 de janeiro de 2013, em Santa Maria. De acordo com o processo, a tragédia foi provocada pela imprudência dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira em usar artefato pirotécnico dentro de um ambiente fechado e pelo fato de haver aglomeração de público além da capacidade prevista no local.
As chamas se alastraram rapidamente por causa do material inflamável usado como isolamento acústico, que produziu uma fumaça preta e tóxica. A boate estava lotada, e não havia saída de emergência. Morreram 242 pessoas e 636 ficaram feridas.
São réus pelas mortes os sócios da boate Kiss Elissandro Callegaro Spohr, 38 anos, e Mauro Londero Hoffmann, 56, além do músico Marcelo de Jesus dos Santos, 41, vocalista da banda Gurizada Fandangueira, e do produtor e auxiliar de palco Luciano Bonilha Leão, 44.
Com base nos inquéritos da Polícia Civil e Brigada Militar, eles foram denunciados pelo Ministério Público por 242 homicídios consumados com dolo eventual (quando se assume o risco de matar) e 636 tentativas de homicídio.