Agro
RS: La Niña aumenta temor de estiagem na safra
Probabilidade do fenômeno que reduz chuvas no Rio Grande do Sul durante o verão supera 80%, segundo Copaaergs
Até o final do verão, a safra gaúcha de grãos tende a continuar sob o signo do La Niña. De acordo com o Conselho Permanente de Agrometeorologia Aplicada do Estado do Rio Grande do Sul (Copaaergs), os modelos de previsão climática apontam probabilidade superior a 80% de que o fenômeno permaneça produzindo impactos no Estado nos próximos meses. A perspectiva é preocupante para as lavouras da estação, como a soja e o milho, que já sofrem com a estiagem desde outubro. O La Niña é caracterizado pelo resfriamento das águas superficiais do Oceano Pacífico e é associado à redução do volume de chuvas no Rio Grande do Sul., segundo publicação do jornal Correio do Povo.
Para janeiro, os prognósticos indicam volumes de chuva em torno da média – de 150 mm a 180 mm – em grande parte do Estado, diz a agrometeorologista Loana Cardoso, coordenadora do Copaaergs. Fevereiro será o mês mais crítico. “Devemos ter um período mais seco, com chuva entre 25 mm e 50 mm a menos que o normal na maioria das regiões”, prevê Loana. Para março, a tendência é de retorno a níveis de precipitação mais próximos dos históricos.
A agrometeorologista explica que o La Ninã é confirmado após cinco trimestres consecutivos de resfriamento do Pacífico e, no caso do Rio Grande do Sul, esse fenômeno já vem sendo observado pelo terceiro trimestre. “Mesmo num ano neutro, com um prognóstico de chuva dentro da normalidade, isso não significa que não possamos ter pequenos períodos de estiagem”, destaca Loana. “Em janeiro, vamos ter uma sequência de dias secos.” Ela lembra que, em razão da alta demanda evapotranspirativa – soma de evaporação da água do solo e transpiração da água pelas plantas –, as chuvas geralmente não são suficientes para suprir a necessidade hídrica das culturas de verão.
Segundo o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Rio Grande do Sul (Aprosoja-RS), Décio Teixeira, a estiagem impediu o término do plantio em algumas regiões do Estado e está dificultando o desenvolvimento da cultura em outras. Entre os municípios mais prejudicados estão Ibirubá, Tapera e Fortaleza dos Valos, que chegaram a ficar 50 dias sem chuva. “Plantamos aqui (na região de Cruz Alta) com duas chuvas de 23 mm”, relata Teixeira.
Embora a Aprosoja ainda não tenha estimativas do impacto da estiagem, Teixeira diz que os prejuízos para a safra gaúcha são evidentes e, com a continuidade do La Ninã, poderão se tornar dramáticos.
“Fala-se que faltava plantar 20% (da área de cultivo prevista para o ciclo 2021/2022, de 6,32 milhões de hectares), o que daria 1,26 milhão de hectares. Isso, se não for plantado, significa mais de 4 milhões de toneladas numa colheita normal”, calcula. O dirigente observa, porém, que o produtor tem janela de plantio até 31 de janeiro no calendário de semeadura definido pela Portaria no 394, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). “O produtor tem de se manter paciente, aquele que não plantou vai ter que esperar que chova para plantar”, recomenda Teixeira.