Agro
Trigo: quebra na produção nacional turbina importação e Argentina deve retomar hegemonia
No mês passado, três navios argentinos atracaram nos portos gaúchos, trazendo consigo uma carga crucial para abastecer os moinhos locais.
A Argentina está se preparando para retomar o posto de principal fornecedor de trigo ao Brasil, à medida que uma queda significativa na produção nacional na última safra impacta a oferta local. No Rio Grande do Sul, estado que tradicionalmente contribui significativamente para a produção nacional, os moinhos já sentem os efeitos da quebra na safra, sendo obrigados a recorrer à importação para suprir a demanda. No mês passado, três navios argentinos atracaram nos portos gaúchos, trazendo consigo uma carga crucial para abastecer os moinhos locais.
Segundo Elcio Bento, analista da consultoria Safras & Mercado, a situação reflete uma realidade emergente de maior dependência da importação, devido à safra que, inicialmente projetada em 11,5 milhões de toneladas, deve se concretizar em apenas 8,6 milhões. "Desses, pelo menos 3 milhões de toneladas são de trigo de baixa qualidade", alerta Bento. Com a quebra na produção no Rio Grande do Sul, cuja estimativa inicial era de 5,4 milhões de toneladas, mas foi reduzida para 3,2 milhões de toneladas devido aos impactos do El Niño, a necessidade de importação se torna crucial para atender à demanda dos moinhos gaúchos, estimada em 1,9 milhão de toneladas.
A imprevisibilidade climática e seus efeitos adversos na produção agrícola reforçam a vulnerabilidade do setor, destacando a importância da diversificação das fontes de fornecimento para garantir a estabilidade do abastecimento de trigo no Brasil. Enquanto isso, a Argentina se posiciona para suprir essa lacuna, fortalecendo sua presença como um parceiro estratégico na garantia da segurança alimentar no mercado brasileiro de trigo.
Rússia perde espaço
No Brasil, a área plantada na safra passada foi 0,6% superior à do ano anterior. Houve queda de cerca de 10% no RS, sendo compensada por elevação de área no Paraná e em Estados da região do Cerrado. A consultoria ainda está consolidando os números, mas a produção deve ficar em torno dos 8,6 milhões de toneladas no país, já computando a perda severa no território gaúcho e redução no Paraná, onde a estimativa de 4,3 milhões de toneladas foi reduzida à colheita de cerca de 3,7 milhões de toneladas.
No primeiro quadrimestre da atual temporada - agosto a dezembro de 2023 -, a Rússia vendeu mais trigo ao Brasil do que a Argentina. “Isso é raro, dificilmente acontece. A última vez foi em 2009 e 2010, quando a Argentina perdeu o posto de maior vendedor do Brasil para os Estados Unidos”, lembra Bento. De dezembro de 2022 a novembro de 2023, os argentinos exportaram menos de 4 milhões de toneladas. “Para a temporada atual, a estimativa é de que exportem cerca de 8,5 milhões de toneladas”, calcula Bento.