Saúde
Vacinação infantil no Brasil sobe em 2022, mas não atinge meta, diz Unicef
As metas de coberturas vacinais no Brasil estão em queda desde 2015
Nesta semana, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) publicaram novos dados sobre a vacinação de crianças no mundo, que apontam uma ligeira recuperação em 2022 frente ao declínio acentuado observado nos primeiros anos da pandemia da covid-19. Essa melhora é também observada nos números referentes ao Brasil, com uma subida de quase dez pontos percentuais, embora não tenha levado o país a alcançar as metas de coberturas vacinais – que já estavam em queda desde 2015.
As autoridades de saúde utilizam como um indicador global da imunização infantil o percentual de crianças protegidas com a vacina DTP, que previne casos de difteria, tétano e coqueluche. Em âmbito mundial, no ano passado, foram 20,5 milhões de crianças sem o esquema vacinal completo, o que representa uma cobertura de 84%.
Embora alto, são 3,9 milhões de crianças a menos do que o total exposto às doenças no ano anterior, pior da pandemia, quando somente 81% haviam sido protegidas. Ainda assim, o cenário mais recente continua a ser pior do que o observado em 2019, quando eram 18,4 milhões sem os imunizantes, e 86% estavam protegidas.
No Brasil, o movimento é semelhante. Foram 430 mil crianças sem a proteção no ano passado, 280 mil a menos do que em 2021, quando eram 710 mil. Isso representa, respectivamente, uma cobertura vacinal de 77% e de 68%, segundo o painel da Unicef. Apesar da subida de quase 10 pontos percentuais, a cobertura continua distante da meta preconizada pelo Ministério da Saúde, de 95%. O último ano em que o país alcançou esse percentual, com 96%, foi 2015. Em 2019, já estava em 70%.
Além de estar abaixo da vacinação mundial, o desempenho do Brasil também está aquém da média dos 57 países de baixa renda apoiados pela Aliança das Vacinas (Gavi). Nessas nações, a cobertura com a DTP foi de 78% e 81%, respectivamente, em 2021 e 2022. Além disso, essa piora do cenário brasileiro ocorre também para outros imunizantes do calendário infantil.
De acordo com o painel, o esquema vacinal inicial com três doses contra a poliomielite, doença que ameaça um retorno após ter sido erradicada, foi de 74% no Brasil em 2022, seis pontos percentuais a mais do que os 68% do ano anterior. No mundo, a cobertura passou de 81% para 84% no mesmo período. A última vez que o Brasil ultrapassou 95% foi em 2015, quando alcançou 98% das crianças. Na época, estava acima da média global, que era de 85%.
Outro imunizante importante destacado pela OMS e pela Unicef é aquele que protege contra o sarampo, um dos patógenos mais infecciosos. Em âmbito global, ele foi o que teve o pior desempenho durante a recuperação de 2022, saindo de uma cobertura com a primeira dose de 81% para apenas 83%. Em 2019, era de 86%.
No Brasil esse aumento foi mais expressivo: de 73% para, também, 81%. Mas, desde 2016, ano em que recebeu o certificado de erradicação do sarampo, o país não alcança 95%. O status de país livre da doença foi revogado em 2019 devido à volta de casos e das sucessivas coberturas abaixo da meta. A proteção com as duas doses, por exemplo, é mais baixa ainda: apenas 58% em 2022.
Cenário global é desigual
Apesar dos avanços nos números globais do ano passado, os órgãos de saúde chamam atenção para a desigualdade na recuperação. Dentre os 73 países que registraram quedas nos números de vacinados durante a pandemia, 34 estagnaram ou continuaram em declínio em 2022. Apenas 15 recuperaram os níveis pré-pandêmicos, e 24 ainda estão a caminho da recuperação.
O quadro causa preocupação porque o progresso em países com mais recursos para vacinação e grandes populações infantis, como Índia e Indonésia, mascara uma recuperação mais lenta ou mesmo declínios contínuos na maioria das nações de baixa renda.
“Por trás da tendência positiva existe um grave aviso. Até que mais países consertem as lacunas na cobertura de imunização de rotina, as crianças em todos os lugares continuarão em risco de contrair e morrer de doenças que podemos prevenir. Vírus como o sarampo não reconhecem fronteiras. Os esforços devem ser intensificados com urgência para recuperar as crianças que perderam a vacinação, enquanto restauram e melhoram ainda mais os serviços de imunização dos níveis pré-pandêmicos”, diz a diretora executiva do Unicef, Catherine Russell, em nota.
Com informações do jornal O Globo.