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Ainda existe esperança com a Rota do Milho para SC
Por Ivan Ramos - Diretor executivo da Fecoagro
A problemática do abastecimento de milho para atender as agroindústrias e os criadores catarinenses, tem sido agenda permanente na ordem do dia no setor. A cada ano o problema se aflora, e quando ocorre situações imprevistas como está sendo nesse momento com as elevações exageradas do preço do milho e ainda as perdas nas lavoras catarinenses com intempéries ou por ataque de pragas, o problema se destaca ainda mais. Se de um lado temos o ponto positivo de que se consumimos milho é porque estamos agregando valor nos produtos através das proteínas animais, por outro lado tem preocupado pelos altos custos na busca do cereal em outras regiões e países, onerando significativamente os custos de produção das carnes e do leite.
No ano de 2020 as agroindústrias e os produtores tiveram bons resultados nas suas atividades porque aproveitaram a ajuda da variação do dólar em relação ao real. Produtores de grãos plantaram com dólar baixo e venderam com dólar em alta. Mas agora vem o troco. Os preços do milho e da soja estão afetando diretamente os custos da ração e as carnes podem ter anulados seus ganhos com dólar, já que os insumos também são cotados com a moeda norte-americana.
A saída, de curto, médio e longo prazo é a redução dos custos de produção dos grãos, quer no plantio, quer na comercialização. Para quem consume mais do que produz, a consequência é sempre custar mais caro, pois terá que trazer a matéria prima de outras regiões, e a distância afeta a logística, além da variação do dólar.
Quais alternativas existentes para tentar minimizar o problema? Reduzir custos de transportes. Trazer milho do Centro Oeste do país tem frete elevado devido à distância; importar do Paraguai, é mais perto, porém mais demorado devido a burocracia nas aduanas que tem provocado filas intermináveis na divisa do país.
A Rota do Milho, que se discute a vários anos, e que prevê trazer grãos do Paraguai para SC, por um trecho mais curto e mais rápido através da passagem por território argentino, é uma das alternativas, entretanto, há certa incredulidade em viabilização, por envolver três países, e que os governos federais de cada nação parece estarem pouco preocupados com as necessidades do setor agroindustrial de SC.
O Fórum Mais Milho realizado recentemente voltou a discutir o assunto e quando abordou a Rota do Milho, surgiram muitas dúvidas e desesperança da viabilidade de concretização. Além dos problemas burocráticos e diplomáticos, que precisam ser superados pelos governos dos três países, ainda há a falta de infraestrutura para o transporte rodoviário e alfandegário. Não existe estradas nem pontes sobre os rios que precisam ser atravessados para chegar a Dionísio Cerqueira em SC, e isso não deve ter solução de curto prazo. Diante disso o que se enxerga é continuar utilizando a rota atual que entra por Foz do Iguaçu no Paraná, mais distante e burocrática, e tendo que passar por estradas praticamente abandonadas em SC, onerando o transporte do milho também nesse quesito. Não deve ser desistido nessa intenção da Rota do Milho, mas não se espera solução de curto prazo. Há que se sair do discurso e da retorica e partir para a pratica das ações. E isso só se consegue com o envolvimento direto do setor privado.
A outra alternativa discutida no Fórum do Milho foi o plantio de cereais de inverno para produção de ração. Um tema talvez mais viável, mas depende de um trabalho de estímulo ao plantio de trigo e triticale para o produto ser destinado para ração, mas há necessidade de antecipadamente se ter garantia de preço compatível com os custos de produção. Produtividade é a chave do negócio e para isso precisamos de tecnologia. Insumos, as cooperativas se dispõe a fornecer com prazos compatíveis com a colheita, mas a semente ainda precisa ser aprimorada para que possamos equalizar o trigo e triticale com preços do milho para ração.
Portanto, SC continua diante do problema de abastecimento de milho para garantir a continuidade do nosso sistema agroindustrial, e precisamos continuar procurando alternativas, e agilizando soluções para não desestruturar nosso setor agroindustrial e perdermos condições de continuar no mercado das carnes e leite que asseguram a renda de milhares de pequenos agricultores catarinenses. Pense nisso.
Ivan Ramos é Diretor Executivo da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado de Santa Catarina - Fecoagro