Santa Catarina
Do couro sai a correia?
Por Ivan Ramos diretor executivo da Fecoagro/SC
A atividade econômica em qualquer setor, sempre precisa ser encarada com racionalidade. Existem alguns ditados populares, que traduzem muito bem a realidade e quando proferidos, merecem reflexão e reconhecimento da sua validade. Por exemplo: “não existe almoço grátis”. Se tem alguém oferecendo almoço, certamente terá interesse em algo em troca, mesmo que seja só por amizade, se o motivo não for profissional ou empresarial.
Mas o ditado mais apropriado para o atual momento agropecuário no país é: “Do couro sai a correia”. Isso digo para ilustrar os atuais custos de produção da grande maioria dos produtos agrícolas e pecuários. É bastante comum o agricultor reclamar dos preços dos insumos agrícolas, comparando com o valor da produção. As elevações de preços têm sido quase que permanentes, mesmo em situações de inflação controlada, e a choradeira se multiplicava.
Neste ano de 2021, onde os preços dos fertilizantes, e os defensivos agrícolas, subiram como nunca, assim como os demais componentes dos custos de produção, ouve-se muito pouca reclamação dos produtores rurais sobre a elevação dos preços. E porque não? Porque os preços dos grãos também subiram. Talvez muito mais do que os insumos. O milho mais que dobrou de preço, a soja triplicou, o trigo também dobrou e produtos de outros segmentos agrícolas também se valorizaram.
E isso é bom? Depende. Se o poder aquisitivo da população acompanhar esse crescimento, passa a ser bom. O valor em alta aumenta o movimento econômico, pode haver mais lucros nas atividades, mais empregos, mais consumo, mais tributos, mais obras e serviços públicos com a arrecadação, e assim a roda vai andando. O ruim será se ocorrer alguma queda brusca em apenas uma parte da cadeia. Daí começarão os descontentamentos e as reclamações. Nossa população brasileira está em dificuldade de renda e, consequentemente, de consumo, mas para o agro o mercado externo está compensado para quem tem produto de exportação. Mas até quando? Essa é a preocupação do momento.
É verdade que existe demanda mundial progressiva por alimentos e sempre terá mercado. A população só aumenta, portanto, precisamos produzir cada vez mais. Mas precisa ser com estabilidade e segurança de longo prazo e não apenas momentânea. Devemos aproveitar o bom momento, até para fazer um pé de meia, mas também precisamos nos preocupar com os dias piores, porque na vida eles também aparecem. Quer queiramos, quer não.
Então, a explicação da calmaria no meio rural, onde com raríssimas exceções, todos os setores estão contentes, apesar da elevação dos custos de produção, sem dúvida, além da boa safra, é a valorização dos seus produtos. E o ditado popular mais apropriado para o momento é: “Do couro sai a correia”. Pense nisso.
-Ivan Ramos é Diretor Executivo da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado de Santa Catarina - Fecoagro