FERROVIAS

Governadores do Sul discutem novo modelo de concessão ferroviária em meio a crise na Malha Sul

Encontro em Florianópolis debate futuro da concessão operada pela Rumo e propõe fundo regional para garantir investimentos na infraestrutura ferroviária.

Por Redação VL Publicado em 08/07/2025 21:33 - Atualizado em 08/07/2025 21:36

A necessidade de um novo modelo de concessão para a malha ferroviária da região Sul do Brasil foi o principal tema de uma reunião técnica realizada nesta terça-feira (8/7), em Florianópolis. O encontro contou com a presença dos governadores Eduardo Leite (RS) e Jorginho Mello (SC), além de secretários estaduais, técnicos da área de logística e representantes dos governos do Paraná e do Mato Grosso do Sul.

Foto: Mauricio Tonetto/Secom

O foco da audiência foi o futuro da concessão operada pela empresa Rumo, que administra 7,2 mil quilômetros de trilhos em quatro estados. A situação no Rio Grande do Sul é particularmente grave: dos 3.823 quilômetros originalmente concedidos, apenas 921 estão em operação, após os severos danos provocados pelas enchentes de 2024. A Rumo já sinalizou ao governo federal a intenção de devolver parte da malha ferroviária gaúcha, mantendo apenas o trecho entre Rio Grande e Cruz Alta, considerado economicamente viável.

A proposta da empresa de renovar antecipadamente a concessão por mais 30 anos gerou preocupação entre os representantes estaduais. Um dos receios é de que os recursos da devolução onerosa — que podem chegar a R$ 2,8 bilhões — não sejam reinvestidos na região Sul, mas redirecionados para outras áreas de atuação da empresa em diferentes regiões do país.

Entre os encaminhamentos da reunião, destacam-se a criação de um grupo técnico conjunto entre os estados do Sul para acompanhar o processo de modelagem da nova concessão e o diálogo com o governo federal. Também foi proposta a criação de um fundo específico para garantir que os recursos da devolução de trechos inativos sejam aplicados exclusivamente na infraestrutura ferroviária da região.

A reunião acontece em um momento estratégico: o atual contrato da Malha Sul expira em 2027, e os estudos federais sobre a renovação ainda não incorporam os impactos das enchentes de 2024 — o que, segundo os estados, compromete a avaliação real da malha e a definição de prioridades.

O governo do Rio Grande do Sul defende a recuperação dos trechos danificados, a modernização da infraestrutura existente, a retomada de conexões interestaduais e a construção de variantes estratégicas. O objetivo é revalorizar o modal ferroviário como alternativa eficiente para o transporte de cargas e reduzir o custo logístico para a produção local.

Foto: Mauricio Tonetto/Secom

Para o governador Eduardo Leite, é essencial garantir que a região Sul tenha protagonismo na definição do novo modelo. Segundo ele, não se trata apenas de defender um modal logístico, mas de impedir a desarticulação de uma infraestrutura estratégica para o desenvolvimento regional.

“A malha ferroviária gaúcha perdeu metade da sua movimentação nos últimos anos e está operando com baixa velocidade, alto custo e pouca integração. Não aceitaremos que essa concessão seja prorrogada sem compromissos concretos de investimento e planejamento. Os recursos da devolução precisam ser aplicados aqui, onde o prejuízo é real e onde há potencial de crescimento”, afirmou o governador.