Esporte
Organização da Copa abre investigação após morte de operário durante o Mundial
Catar admite “entre 400 e 500 mortes” de operários nos estádios da Copa.
O Catar abriu uma investigação após a morte de um trabalhador filipino em uma das bases de treinamento da Copa do Mundo. O chefe do comitê organizador do Mundial, Nasser Al Khater, confirmou o caso, mas não revelou a identidade do operário. "Neste momento, continuamos investigando o que aconteceu e como aconteceu. Obviamente, é algo que nos deixa extremamente tristes", limitou-se a dizer Al Khater.
A denúncia, publicada pelo site The Athletic na última quarta-feira (7), diz que um operário filipino contratado para consertar as luzes de um estacionamento de um resort utilizado pela seleção da Arábia Saudita morreu depois de "escorregar de uma rampa enquanto caminhava ao lado do veículo e cair de cabeça no concreto". A data do óbito não foi revelada, mas ocorreu durante a Copa do Mundo.
Praticamente toda a infraestrutura da Copa do Mundo foi erguida por trabalhadores imigrantes - dos 2,7 milhões de habitantes no país-sede, apenas 300 mil são catarianos e, segundo a Human Rights Watch, dos imigrantes, cerca de 1 milhão atua na construção civil e 1 milhão, em funções como de empregadas domésticas, garçons e camareiras. O governo do país, porém, calcula que o número total de trabalhadores de fora seja de 1,5 milhão.
Catar admite “entre 400 e 500 mortes” de operários nos estádios da Copa
No fim de novembro, a organização da Copa do Mundo do Catar se envolveu em nova polêmica no caso. Hassan Al Thawadi, um dos chefes da organização da competição, admitiu que cerca de 500 operários imigrantes morreram durante os preparativos para a disputa do Mundial. O anúncio foi feito ao canal britânico TalkTV.
Em uma nota à imprensa, divulgada após a entrevista, o Comitê da Copa "corrigiu" seu diretor e disse que o número citado por al-Thawadi se referia a "estatísticas nacionais cobrindo o período de 2014-2020 para todas as mortes relacionadas ao trabalho (414) em todo o país no Catar, cobrindo todos os setores e nacionalidades."
O comitê informou também que o número total de mortes na preparação para a Copa foi de apenas 40 pessoas. Eles dizem que 37 foram considerados incidentes não relacionados ao trabalho, como ataques cardíacos, e três de incidentes no local de trabalho.
Em 2017, o Catar adotou o salário mínimo, reduziu as horas trabalhadas em calor extremo e aboliu os regulamentos que limitavam a mobilidade dos trabalhadores. Uma das alterações mais importantes feitas nos últimos anos foi o fim ao sistema "kafala", em que os empregadores eram responsáveis pela ida e permanência do trabalhador no país. Assim, os imigrantes não podiam, por exemplo, mudar de emprego.
A Anistia Internacional e a ONG Human Rights Watch lideraram apelos à Fifa e ao Catar para que criem um fundo de compensação de US$ 440 milhões (R$ 2,2 bilhões) aos trabalhadores mortos, ou feridos, nos preparativos para a Copa. Eles também acusam o país árabe de não informar adequadamente o número de mortes.