Santa Catarina
Startup usa satélite, drone e inteligência artificial para monitorar cidades e meio ambiente
Em Florianópolis, onde já é utilizado, o sistema constata cerca de 250 pontos críticos por mês – locais com possíveis obras irregulares ou desmatamento.
Imagens de satélite, voos de drone e algoritmo com inteligência artificial. Essas são as ferramentas do Sistema Monitora, da startup catarinense Horus Aeronaves, desenvolvido para prefeituras, órgãos públicos ou outras organizações que precisem fazer a gestão ambiental e urbanística de grandes áreas.
Em Florianópolis, onde já é utilizado, o sistema constata cerca de 250 pontos críticos por mês – locais com possíveis obras irregulares ou desmatamento. O projeto tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) por meio do Tecnova II SC. Ao todo, o programa destinou mais de R$ 7,5 milhões para contemplar 28 empresas em todo o Estado.
"O Monitora visa a ajudar prefeituras e instituições que precisem fazer monitoramentos de grandes áreas de uma forma mais inteligente possível", explicou o CEO da Horus, Fabrício Hertz. "Surgiu em um momento onde estávamos olhando para as dificuldades de analisar grandes áreas de território, sejam florestais, sejam urbanas. O objetivo é analisar e ter informação em tempo hábil, com relevância, para conseguir monitorar."
Florianópolis é um exemplo do desafio de fazer a gestão ambiental e urbanística. Possui 438,5 km² (sem contar as baías Norte e Sul) e diversos locais de difícil acesso. "Esse sistema é uma maneira de as entidades e os órgãos públicos olharem para os grandes territórios e não dependerem exclusivamente de denúncias", disse Hertz. "Hoje, se alguém começou a desmatar uma área de difícil acesso, onde ninguém passa perto, dificilmente terá uma denúncia. Mas nosso sistema, que usa satélite e drone, muito possivelmente vai detectar isso e vai dar a capacidade de o poder público entender o que está acontecendo e que medida será tomada."
O projeto teve início em agosto de 2019, na capital catarinense. Todo mês, uma imagem de satélite é produzida e comparada com a anterior. Então, um algoritmo que usa inteligência artificial detecta possíveis pontos de irregularidades. Em alguns deles, os dados do município mostram que há autorização para alterações no local. "Se não tem, vai para a próxima fase: uma equipe vai até o local e o drone faz a imagem. Com isso, o agente municipal consegue averiguar sem sombra de dúvidas o que está acontecendo. É possível verificar também se um desmatamento está em área de preservação permanente (APP) ou dentro de um parque ou uma reserva, analisar se casa com o plano diretor", explicou Hertz.
O Tecnova
Além de Fabrício Hertz, a Horus tem outros dois sócios: Lucas Mondadori e Lucas Bastos, todos engenheiros mecânicos formados na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Em um projeto de extensão, produziam aeronaves pilotadas remotamente para participar de competições. Em 2014, eles participaram do Sinapse da Inovação, um programa de incentivo ao empreendedorismo inovador idealizado pela Fundação CERTI e desenvolvido pela Fapesc.
"Em 2015, nos lançamos", lembrou Hertz. "O negócio, inicialmente, era focado na tecnologia em si, nos equipamentos, usando pouco a inteligência embarcada. Com o passar do tempo, com o desenvolvimento do mercado e as próprias análises mercadológicas, passamos a investir mais em inteligência embarcada e algoritmos de inteligência artificial. E isso foi abrindo portas para o casamento com outras tecnologias, como o Monitora". Além deste projeto, a Horus trabalha com segmentos de nicho, como monitoramento de áreas agrícolas, de linhas de transmissão, parques de energia solar e torres de telefonia celular.
Com o Monitora, a empresa foi contemplada no Tecnova II em 2020. "O programa viabilizou a questão de fazer os protocolos e os ajustes necessários para o sistema. Quando concorremos ao Tecnova, o sistema estava sendo implementado em Florianópolis, e virou um projeto piloto. Eram necessários ajustes do ponto de vista técnico para que os protocolos e os algoritmos funcionassem de forma automática, o que permitisse que pudesse ser usado para vários municípios e órgãos. Com o programa, fizemos a conversão de um protótipo para um sistema automatizado e escalável, para ser amplamente usado por outros tipos de clientes."
"A Fapesc busca apoiar o desenvolvimento de Santa Catarina, por meio da formação e incentivo de pessoas e organizações", afirmou o presidente da Fundação, Fábio Zabot Holthausen. "Essa é uma das missões da Fapesc e do Governo de Santa Catarina. O Tecnova II é uma importante parceria com a Finep, para geração de inovação nas empresas catarinenses. O caso da Horus é um exemplo importante, pois, por meio da formação e do incentivo financeiro, a empresa busca solucionar problemas da sociedade catarinense."
Agora o Monitora pode ser usado em outras prefeituras ou outros órgãos que precisem fazer o monitoramento de grandes áreas.