Economia
Bolsonaro cria “pacote de bondades” para ampliar sua base de apoio entre policiais militares
Bolsonaro se aproxima de polícias militares com medidas como crédito imobiliário e nova lei orgânica.
À medida que vê sua base de apoio se estreitar, o presidente Jair Bolsonaro se volta a um segmento em que exerce forte influência para alavancar sua campanha à reeleição em 2022. Nos últimos dias, ele intensificou a troca de afagos com as polícias militares, em um movimento político que corrói a ascendência de governadores sobre as tropas e nutre planos de politizar as forças estaduais e de aumentar a presença delas no Congresso.
Isenção de IPI de automóveis, créditos imobiliários e promessa de uma nova lei orgânica da PM e da Polícia Civil para esvaziar o poder dos governadores sobre os contingentes estaduais. Bolsonaro busca garantir por todas as frentes o apoio dos policiais militares.
No último dia 9, fora da agenda, Bolsonaro foi a um fórum com 44 entidades do setor que, entre outras atividades, buscou treinar agentes para a missão eleitoral. Além de mais um mandato para o presidente, o grupo pretende ao menos dobrar os 34 policiais e bombeiros militares eleitos em 2018 para cargos na Câmara, Senado, assembleias e governos estaduais.
O sargento Leonel Lucas de Lima está à frente da entidade que promoveu o encontro. A Associação Nacional de Entidades Representativas de Policiais Militares e Bombeiros Militares do Brasil (ANERMB) é o principal núcleo da rede de policiais em volta de Bolsonaro identificada pela reportagem. “Para nós é uma honra estarmos aqui com o senhor dizendo que os policiais militares e os bombeiros militares, que fizeram a campanha do senhor, continuamos acreditando no seu trabalho”, disse Lucas no evento.
A ANERMB se consolidou como a maior entidade de militares estaduais. Em três anos, ganhou cerca de 50 mil filiados e alcançou 200 mil policiais e bombeiros inscritos. Só agora, no terceiro ano de mandato de Bolsonaro, o presidente a prestigiou pela primeira vez. “Nós militares, com nossas famílias, demos 18 milhões de votos ao presidente. Deixamos claro a ele que em cidades que ele nem sabe que existe teve votos por causa dos PMs”, frisou Lucas. “Está na hora de a gente ser reconhecido pelo que fez”.
Entidades à parte, Bolsonaro espalhou policiais em áreas técnicas, em núcleos que fomentam a narrativa política e ideológica nas redes e até em postos que exigem interação com a CPI da Covid. A Fundação Nacional de Saúde foi entregue ao ex-comandante da PM de Minas Gerais Giovanne Gomes da Silva. À frente da Secretaria Nacional de Segurança Pública está o coronel da PM do DF Carlos Paim.
Benesses
As demonstrações de sintonia foram retribuídas por Bolsonaro com projetos de cunho populista que impactam o bolso dos PMs. Dois dias depois do evento veio à tona o programa do governo para crédito imobiliário a policiais e bombeiros, pleito que Bolsonaro carregava no colo desde 2018. Ele não será o primeiro a financiar casas para militares estaduais em ano pré-eleitoral. Em 1997, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso usou de expediente semelhante, com um convênio da Caixa que se limitou à construção de cerca de 10 mil moradias a policiais em São Paulo.
No começo deste mês, deputados bolsonaristas aprovaram em comissão da Câmara projeto que zera IPI de automóveis adquiridos por profissionais da segurança pública. Proposta em julho de 2020, durante a pandemia e sem estimativas de impacto fiscal, a benesse está sendo justificada pela base governista com valorização dos policiais. Segundo o autor, deputado Fabio Reis (MDB-SE), seria um modo de expressar a “gratidão que o País sente pelo policial”. O relator, Carlos Jordy (PSL-RJ), disse que é um “o mínimo de reconhecimento” aos policiais, que vivem “uma espécie de sacerdócio” e foram “tratados como inimigos da sociedade nos governos do PT”.
Não é só. A base bolsonarista se prepara para votar até o fim do ano os projetos de lei orgânica da PM e da Polícia Civil. No caso dos militares, em especial, a articulação ameaça esvaziar o poder de governadores sobre eles. A primeira versão da proposta cria eleição interna, escolha por lista tríplice e mandato para o cargo de comandante-geral.
Para as associações, é pouco. Elas se manifestam ainda contra a reforma administrativa – agentes econômicos e políticos alertam para a falta de compromisso e a possibilidade de o presidente desidratar a proposta, para não desagradar a categoria. “O que Bolsonaro fez de bom até agora? Até agora, nada. A gente admira como ele está conduzindo o Brasil, mas para a categoria em específico não fez nada”, afirmou o sargento Lucas.